Nem todo mundo sabe nadar, mas se depender da baiana Sulamita Araújo, ninguém mais fica sem poder dar um mergulho em Porto da Barra, Salvador. Isso porque há 17 anos ela ensina qualquer pessoa que quiser aprender a nadar de graça.
Por lá, ela é conhecida como Professora Peixinho e atende desde crianças pequenas, até adultos com problemas de saúde que encontram na natação uma forma de terem uma vida mais saudável. Caso de Katinha, que sofre de insuficiência renal e diz que a natação é a maneira que ela encontrou de lutar pela sua saúde com mais energia.
Seis vezes por semana, a Professora Peixinho dá aulas para 105 alunos de todas as idades. Deste total, 70 são isentos da mensalidade de R$ 250, ou seja, mais da metade. São crianças e adolescentes, cujos pais não podem arcar com os custos da mensalidade, mas que encontraram em Sulamita a chance de aprenderem a nadar.
“Muita gente acha que estou fazendo caridade, mas não é isso. Eu só quero dar uma chance a quem não pode pagar um clube ou uma academia. E até a quem poderia pagar, mas ainda sofre preconceito nesses lugares”, conta.
“Aqui tem gay, casal homossexual, tem negro, tenho uma aluna com um problema de saúde que um clube não aceitaria. Aqui, botou a touca, são pessoas iguais. Médico, porteiro, professora, estudante, desembargadora ou desempregado, não tem diferença nenhuma”, diz orgulhosa.
E a generosidade da professora não acaba por aí. Pagando ou não pagando, todos os alunos têm direito a um belo café da manhã que ela leva para a praia, todos os dias. Sábado a variedade é maior ainda e quando alguém faz aniversário, também ganha um bolo especial, cachorro quente e salgadinhos.
Além disso, a escola organiza constantemente viagens para provas de maratona aquática e quando os alunos não podem arcar com os custos, ela dá uma ajuda. “Não é só assistência social. Ela usa a natação para formar cidadãos e ainda dá a oportunidade a quem quiser progredir enquanto atleta, botando pra competir”, diz Luiz Lima, ex-nadador profissional.
Obviamente, Peixinho é muito querida entre seus alunos, que reconhecem seu esforço e a importância de sua iniciativa.
“Ela não descansa, não tem férias nem folga. Desce pra praia no sol, na chuva, com trovoada, desce até com dor de dente. Só tem dois dias do ano que ela não dá aula: Natal e 1º de janeiro, que é o aniversário dela. Mesmo assim, não duvido que ela desça se aparecer um aluno”, afirma Priscila Jatobá, que nada com Peixinho há 10 anos e ajuda na gestão da escola.
Sulamita diz que faz isso por dois motivos: porque ela acha que tem obrigação de espalhar o conhecimento que adquiriu ao longo da sua vida e porque nunca teve afeto de seus pais, então essa é uma maneira de ter sua própria família.
“Nunca tive afeto na minha família. Fui abusada por meu pai, minha mãe não me dava carinho e fui me afastando dos meus irmãos. Eu sempre sofri com essa carência e tento dar aos meus alunos aquilo que sempre quis ter”, disse.
Jardel de Souza que o diga. Depois de 15 anos de aulas gratuitas com Peixinho, hoje é salva-vidas em um resort no litoral norte da Bahia e vê na natação o seu sustento. “Tia Peixinho é como uma mãe pra mim. A gente nunca teve patrocínio, mas nunca deixou de competir e de viajar. A gente vendia rifa pra ajudar a pagar tudo”, conta.
Ciberia // BBC / Razões para Acreditar