Em meio à crise por disputa de poder na legenda, presidente afirma que pretende criar novo partido. Cerca de 30 parlamentares aliados de Bolsonaro devem seguir exemplo e deixar o PSL.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta terça-feira que deixará o PSL e que pretende fundar um novo partido. O anúncio foi feito em meio a uma disputa pelo poder da legenda pela qual ele foi eleito.
“Hoje anunciei minha saída do PSL e início da criação de um novo partido: ‘Aliança pelo Brasil’. Agradeço a todos que colaboraram comigo no PSL e que foram parceiros nas eleições de 2018”, publicou Bolsonaro em uma rede social.
Pouco antes de anunciar a saída, Bolsonaro se reuniu com deputados aliados. Após a reunião, alguns dos presentes disseram que cerca de 30 parlamentares devem acompanhar o presidente e deixar o PSL.
Segunda maior bancada da Câmara, o partido possui 53 deputados. No Senado, a legenda conta com três senadores. De acordo com a Folha de S.Paulo, os parlamentares que seguirão o presidente devem aguardar a criação da nova sigla para evitar a perda do mandato por infidelidade partidária.
O primeiro passo para fundar a nova legenda é o recolhimento de 500 mil assinaturas, coletadas em ao menos nove estados. Essa lista de apoio deve ser apresentada no momento em que o pedido de abertura for protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que analisará a questão.
A saída de Bolsonaro ocorre após uma batalha entre o clã Bolsonaro e o presidente nacional da sigla, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), pelo controle da legenda, que é alvo de uma série de acusações de candidaturas laranjas. A disputa envolve também o poder sobre os imensos fundos partidários aos quais o partido tem direito – a previsão é que a legenda receba 110 milhões de reais neste ano.
No mês passado, Bolsonaro e mais 23 parlamentares chegaram a entrar com pedido na Procuradoria Geral da República (PGR) para o bloqueio dos repasses do fundo ao PSL e o afastamento de Bivar da sigla, alegando supostas irregularidades cometidas pelo dirigente.
Após passar por sete legendas, Bolsonaro se filiou ao PSL para disputar as eleições presidenciais de 2018, e seus filhos Eduardo e Flávio se tornaram líderes do partido em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Um ex-aliado de Bolsonaro, o ex-ministro Gustavo Bebianno, chegou a assumir interinamente a presidência nacional do partido durante a campanha eleitoral, no lugar de Bivar.
A crise instalada dentro do partido eclodiu após declarações públicas de Bolsonaro, que desencadearam uma troca de farpas entre o presidente e Bivar. Bolsonaro recomendou a um apoiador que “esquecesse” o PSL e afirmou que Bivar “está queimado para caramba” em seu estado, Pernambuco.
Bivar reagiu afirmando que a fala de Bolsonaro foi “terminal”. “Ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido“, declarou o presidente do partido.
Oficialmente, o grupo de Bolsonaro no PSL manteve o discurso de que está insatisfeito com Bivar por causa da falta de transparência no comando da sigla e a eclosão das suspeitas em torno das candidaturas de fachada em Pernambuco.
Ainda assim, o próprio presidente da República insiste em manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também é suspeito de comandar um esquema similar de candidaturas laranjas em Minas Gerais.
Já os apoiadores de Bivar acusam o grupo do presidente de querer controlar a gorda fatia do fundo partidário que cabe ao PSL desde que a sigla se tornou a segunda maior bancada da Câmara.