A comunidade científica investiga a possibilidade de o anti-inflamatório Canakinumab poder evitar mortes por ataque cardíaco e câncer.
O anti-inflamatório Canakinumab é utilizado no tratamento da inflamação das articulações. Diminuindo a inflamação que pode provocar o entupimento das artérias, pode também diminuir o risco de ataque cardíaco e até o crescimento de alguns tipos de câncer: é este o objeto de estudo do ensaio publicado no The New England Journal of Medicine.
O poderoso anti-inflamatório, que os pesquisadores classificam como “uma nova fronteira” no tratamento de doenças cardíacas, mostrou-se capaz de diminuir em 15% o risco de ataque cardíaco, em 50% a probabilidade de morrer de câncer e ainda de proteger contra doenças inflamatórias como a gota ou a artrite.
A experiência envolveu mais de 10 mil pessoas que já tinham sofrido um ataque cardíaco, mas que não tinham recebido qualquer diagnóstico de câncer. A cada três meses, receberam uma injeção com o medicamento, aprovado em 2009 nos EUA e na Europa para o tratamento de síndromes autoinflamatórias, e foram monitoradas ao longo de 4 anos.
Um dos pesquisadores, Paul Ridker do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, nos Estados Unidos, considera que os resultados têm “implicações de longo alcance”. “Pela primeira vez, fomos capazes de mostrar claramente que reduzir a inflamação, independentemente do colesterol, reduz o risco cardiovascular“, declarou.
Os ataques cardíacos ocorrem frequentemente em pessoas com níveis normais de colesterol, mas risco de inflamação crônica, o que levou os pesquisadores a se debruçarem sobre os efeitos da inflamação na saúde do coração.
O efeito anticancerígeno do Canakinumab também entusiasmou os pesquisadores, que falam em um corte de 50% no número de mortes por câncer, com resultados particularmente animadores em casos de câncer do pulmão.
Os médicos não acreditam que o Canakinumab possa impedir o aparecimento e desenvolvimento de câncer, mas sim que possa diminuir seu crescimento. Neste aspecto, no entanto, serão necessários novos estudos, uma vez que este ensaio não foi concebido especificamente para testar os efeitos do medicamento nos tumores.
O grande entusiasmo está, por isso, no lado da saúde cardíaca.
“Ao longo da minha vida, pude ver três grandes eras da cardiologia preventiva. Na primeira, reconhecemos a importância da dieta, do exercício e de não fumar. Na segunda, vimos o valor tremendo dos medicamentos de redução dos lípidos, como as estatinas. Agora, estamos abrindo a porta para a terceira era”, considera Ridker.
Mas este não é um entusiasmo sem reservas. O uso de Canakinumab aumentou o risco de infecções fatais em um em cada mil pacientes tratados, com os mais idosos e diabéticos como os mais vulneráveis.
Ciberia // ZAP