Pesquisa conclui que 70% de mulheres em estágio inicial de câncer de mama não precisam de quimioterapia. Teste com genes é capaz de detectar quem pode ou não abrir mão da quimioterapia.
O maior estudo alguma vez realizado sobre tratamento de cancro da mama concluiu que a maioria das mulheres com a forma mais comum da doença podia saltar a quimioterapia sem afetar suas hipóteses de vencer o cancro.
A conclusão é de uma ampla pesquisa internacional que demonstrou que tratamento hormonal é tão eficiente quanto a quimioterapia para grande parte dos casos de tumores mamários que ainda não se espalharam pelo corpo.
“Poderemos poupar centenas de milhares de mulheres de um tratamento tóxico e agressivo que, na realidade, não as beneficia”, disse ao New York Times a médica Ingrid A. Mayer, da Vanderbilt University Medical Center, autora do estudo.
Conforme a pesquisadora, testes de genes em amostras de tumores são capazes de identificar quais mulheres podem abrir mão da quimioterapia com segurança, após passar por cirurgia, e usar somente drogas que bloqueiam a produção de estrogênio.
Atualmente, mulheres que recebem uma nota de baixo risco nesses testes são informadas de que não precisam fazer quimioterapia. As que recebem nota alta – pelo fato de os tumores serem de tipo mais agressivo – precisam fazer quimio.
Mas a maioria das pacientes recebe resultados intermediários e é aconselhada a fazer o tratamento agressivo, por via das dúvidas. Muitas vezes a quimioterapia é combinada com o tratamento hormonal.
A pesquisa chamada TAILORx, que foi apresentada na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Chicago, e publicada na New England Journal of Medicine, demonstrou que essas mulheres têm a mesma chance de sobrevivência com ou sem quimioterapia.
O percentual de sobrevivência após nove anos é de 93,9% sem quimioterapia e de 93,8% com a quimioterapia. O teste genético, para saber se o tratamento é necessário ou não, é feito em amostras de tumores de mama, após a retirada por cirurgia.
Só para câncer em estágio inicial
O resultado do estudo diz respeito apenas a câncer de mama no estágio inicial, ou seja, aquele que ainda pode ser tratado por terapia hormonal e que não se espalhou para os nódulos linfáticos, nem contém mutação no gene HER2, que faz com que o tumor cresça mais rapidamente.
Além disso, as mulheres devem ter recebido nota entre 11 e 25 num teste usado para medir a atividade dos genes presentes no tumor. Portanto, cada caso deve ser analisado com cautela, para verificar o melhor tratamento.
“Todos os dias, mulheres com esse tipo de câncer de mama se veem diante do terrível dilema de decidir se vão ou não fazer o quimioterapia, sem ter dados suficientes e assertivos sobre resultados”, diz Rachel Rawson, da ONG Breast Cancer Care, voltada a pesquisas e tratamentos de câncer.
“Essa pesquisa é transformadora e uma ótima notícia já que poderá liberar milhares de mulheres da agonia da quimioterapia.”
Tumor que mais causa mortes no Brasil
No Brasil, o câncer de mama é o tumor que mais causa mortes entre as mulheres.
De acordo com o Grupo de Estudos do Câncer de Mama, por ano, em torno de 52.680 novos casos de tumor de mama são diagnosticados – 52 mulheres em cada 100 mil serão diagnosticadas com câncer de mama ao longo de suas vida. 13.000 pacientes morrem anualmente.
Esse tipo de câncer é relativamente raro antes dos 35 anos. Acima dessa idade, a incidência da doença cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca).