Um escândalo, que envolve ligações entre um pedófilo e o pai do primeiro-ministro da Islândia, levou ao colapso da coligação parlamentar que sustentava o Governo do país.
Segundo a BBC, o partido islandês Futuro Radioso, que garantia a maioria do partido do primeiro-ministro Bjarni Benediktsson no poder, anunciou a decisão de se retirar do Governo, o que obrigou ao anúncio de eleições legislativas antecipadas.
O partido centrista diz que está em jogo uma “séria quebra de confiança”, depois de ter sido tornado público que o pai do chefe do Governo tentou restaurar “a boa moralidade” de um pedófilo condenado e que Benediktsson teria tentado cobrir essas alegações.
A imprensa divulgou que o pai do primeiro-ministro, um dos homens mais ricos do país, assinou uma carta de recomendação para que Hjalti Sigurjón Hauksson, condenado em 2004 por violar sua enteada durante 12 anos, tivesse a reputação restaurada.
Segundo o sistema penal islandês, pessoas condenadas por crimes violentos perdem a chamada “reputação ilibada”, condição para exercer certos cargos públicos ou profissões como, por exemplo, a advocacia.
Mas podem corrigir isso legalmente cinco anos depois do início da sentença, caso apresentem, entre outros documentos, cartas de recomendação feitas por pessoas consideradas “respeitadas e bem conhecidas”.
Esta é uma disposição legal muito controversa no país. Além disso, Benediktsson foi acusado de estar informado desde julho sobre a carta, mas teria tentado não chamar atenção.
“Boa vontade”
Em comunicado, o pai do primeiro-ministro pediu desculpas por ter escrito a carta de recomendação para Hauksson, que é seu amigo, e contou que o condenado apresentou uma carta já escrita para que ele apenas assinasse.
“Nunca considerei a restauração da honra como nada além de um procedimento legal que tornava possível a criminosos condenados recuperarem alguns direitos civis. Não acho que é algo que justifique a posição de Hjalti em relação à vítima. Eu disse que ele deveria enfrentar seus atos e se arrepender deles”, afirmou.
“O que era para ser um pequeno gesto de boa vontade para com um criminoso condenado se transformou na continuação da tragédia da vítima. Por isso, peço desculpas novamente”, continuou.
A ministra da Justiça já anunciou que está preparando um projeto de reforma do sistema de restauração de honra (ou de reputação) como resposta a esta polêmica, que acaba com o Governo mais breve na história política do país: apenas nove meses no poder.