Charge de Serena Williams não é racista, diz conselho

Mark Knight

Entidade de imprensa australiana diz que polêmico desenho retratando a tenista, que chegou a ser comparado a caricaturas do século 19 por críticos, não é preconceituoso.

O Conselho de Imprensa da Austrália decidiu nesta segunda-feira (25/02) que uma charge da tenista americana Serena Williams que causou controvérsia após a final do Aberto dos Estados Unidos no ano passado não fere os seus princípios e disse não considerar a imagem racista.

Publicada no jornal de Melbourne Herald Sun, a charge retrata Williams saltando raivosamente sobre sua raquete de tênis ao lado de uma chupeta após ser derrotada pela adversária Naomi Osaka. No plano de fundo, o árbitro da partida, o português Carlos Ramos, pede a Osaka: “Você não poderia deixá-la ganhar?“.

A charge foi criticada por ativistas, celebridades e fãs do esporte, que condenaram o cartunista Mark Knight por desenhar Williams com lábios grossos e nariz grande e Osaka como uma pequena mulher com cabelo loiro e liso. De origem haitiana e japonesa, Osaka é mais alta que Williams e tem cabelo encaracolado e escuro com mechas mais claras. Tanto Knight quanto o Herald Sun, que publicou o desenho, negaram que a imagem seja racista.

Em um comunicado divulgado nesta segunda, o Conselho de Imprensa da Austrália afirmou “reconhecer que alguns leitores acharam a charge ofensiva”, mas acrescentou que o debate sobre o comportamento da tenista era de interesse público.

“O Conselho considera que a charge usa como recursos o exagero e o absurdo para ilustrar sua posição, mas aceita o argumento da publicação de que o desenho não retrata Williams como um macaco, e tem a intenção de mostrá-la cuspindo a chupeta“, disse a entidade, usando uma expressão australiana para descrever o momento em que uma criança tem um acesso de “birra”.

Na avaliação da entidade, trata-se de uma “caricatura sem conteúdo racista e familiar à maioria dos leitores australianos”. Segundo o Herald Sun, a imagem era uma sátira dos desentendimentos de Williams com o árbitro Carlos Ramos por conta de penalidades que havia recebido, que tiveram início quando a jogadora foi advertida pela infração de receber orientações de seu treinador.

Pouco tempo depois, a tenista ficou irritada e quebrou sua raquete, ato pelo qual foi penalizada em um ponto. Após uma discussão em que chamou o árbitro de ladrão, foi penalizada com a perda de um game inteiro.

Na época, a Associação Nacional de Jornalistas Negros dos Estados Unidos disse que a charge era “repugnante em muitos níveis“, incluindo a propagação de conteúdo racista e sexista. Muitos críticos afirmaram que o desenho reproduz um estereótipo com o qual sofrem muitas mulheres negras, frequentemente retratadas como figuras raivosas.

Também se colocando contra o cartunista, o Washington Post publicou uma coluna sobre o desenho em que o compara a charge da época da segregação racial nos EUA. “Knight desenha traços faciais que refletem as caricaturas desumanizadoras tão comuns nos séculos 19 e 20”, escreveu o comentarista Michael Cavna.

Autor da charge, Knight disse à emissora australiana ABC nesta segunda-feira que estava “muito feliz” com a decisão do Conselho de Imprensa da Austrália.

Não vou mudar minha forma de desenhar charges porque acho que sou um cartunista muito livre e justo, aceito desenhar temas de acordo com seus méritos e os retrato de acordo com isso”, disse.

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