O “Projeto Medicação” foi posto de lado em 2003, mas, até lá, os médicos da CIA estudaram a hipótese de substituir as violentas técnicas de interrogatório pelo uso de um “soro da verdade” que fizesse os detidos falar.
Um relatório, assinado por um responsável médico da CIA, detalha o que era o “Projeto Medicação”, que consistia em trocar a tortura por medicação e visava forçar os suspeitos de terrorismo detidos nos anos que se seguiram aos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, a fornecerem informações.
Os médicos da agência, de acordo com a revista portuguesa Visão, analisaram o uso de barbitúricos – efeito sedativo e hipnótico –, de psicotomiméticos – que geram sintomas de psicose –, e sobretudo do midazolam, uma benzodiazepina.
Esse tipo de medicamento, usado normalmente para tratar a ansiedade, revelou uma desvantagem significativa quando comparada com o LSD que a CIA usou nos anos 50. O midazolam tem que ser administrado por via intravenosa, enquanto o LSD pode ser administrado sem que o interrogado perceba.
Nos interrogatórios que se seguiram ao 11 de setembro, eram usadas técnicas brutais contra os suspeitos, como agressão física, waterboarding – uma forma de tortura que simulava o afogamento – e contenção dos detidos em uma caixa minúscula. Esses métodos foram fortemente criticados, até pelo ex-presidente dos EUA, Barack Obama.
A hipótese esteve em cima da mesa devido à “notável resistência” de Abu Zubaydah, suspeito de ajudar a planejar o 11 de setembro, às técnicas de interrogatório empregadas pela CIA, escreve a Visão.
“A intensidade e a duração dos interrogatórios de Abu Zubaydah foram uma surpresa para os Serviços Médicos e motivaram um estudo mais profundo sobre a alternativa aparentemente mais benigna dos interrogatórios com drogas”, lê-se no relatório.
O relatório menciona que o uso de tal droga iria se deparar com obstáculos legais: aqueles que proibiam a realização de experiências médicas em prisioneiros, assim como o uso de drogas que alteram a mente em interrogatórios.
Por tudo isso, a agência desistiu da ideia em 2003, sem nunca enviar o pedido de parecer ao Departamento de Justiça, depois de analisar os resultados de tentativas anteriores.
Outro relatório, datado de 1961 e citado pelo Washington Post, concluiu que quem aguenta os interrogatórios também é capaz, provavelmente, de manter sua posição mesmo em estados mentais alterados, como seria o caso com o uso de um medicamento.
Há mais de dois anos que a União Americana pelas Liberdades Civis pedia a publicação do relatório, no âmbito das alterações à Lei da Liberdade da Informação nos EUA. Um juiz federal autorizou a divulgação em setembro do ano passado e documento chegou ao conhecimento público esta semana.
Ciberia // ZAP