A Academia Sueca responsável pela atribuição dos prêmios Nobel atravessa um período difícil, depois do escândalo de abusos sexuais com o marido de um dos seus membros. No total, cinco já pediram demissão.
A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, anunciou nesta quinta-feira (12), seu pedido de demissão, depois de uma reunião de emergência que durou mais de três horas, sobre a crise na instituição que concede o Nobel de Literatura.
Sara Danius, que abandonará também seu assento na academia, não quis revelar se sua saída ocorreu ou não depois de uma votação e assegurou que não foi discutido o nome de seu sucessor.
“Não posso entrar nesse assunto, é confidencial. É a vontade da academia, e a aceito. Gostaria de continuar no cargo, mas há outras coisas para se fazer na vida”, disse no final da reunião realizada na sede da instituição.
Tratou-se da primeira reunião da instituição depois da demissão, na sexta-feira passada, de outros três acadêmicos – Klas Östergren, Kjell Espmark e Peter Englund – que aludiram de forma indireta ao caso envolvendo o dramaturgo francês Jean-Claude Arnault, ligado à academia e marido de um dos seus membros, Katarina Frostenson, cuja saída foi também agora comunicada.
Em novembro, no meio da campanha de denúncias de abusos sexuais #MeToo (Eu também), 18 mulheres revelaram de forma anônima, no jornal diário Dagens Nyheter, abusos cometidos por Arnault em instalações pertencentes à Academia Sueca.
Quando o escândalo surgiu, a Academia Sueca cortou a relação privilegiada que mantinha com o dramaturgo e pediu uma investigação externa, enquanto várias mulheres interpunham processos judiciais e o Ministério Público abria um inquérito, entre duras críticas do mundo cultural à instituição.
Os investigadores independentes recomendaram a denúncia do Fórum, o clube literário dirigido por Arnault, por irregularidades no financiamento recebido da academia.
O relatório alertava igualmente que Frostenson era coproprietária da empresa que geria o clube, o que violava as normas de imparcialidade para concessão de ajudas, e que Arnault tinha sido o autor de vazamentos de informação sobre o vencedor do Nobel em sete ocasiões.
Mas uma proposta para expulsar Frostenson foi rejeitada pela maioria, o que causou a demissão dos outros três membros, que criticaram publicamente seus colegas por sobreporem motivos pessoais à responsabilidade de zelar pela integridade da instituição.
No final da reunião desta quinta, o diretor da Academia Sueca, Anders Olsson, justificou a saída de Frostenson e Danius com a necessidade de sobrevivência da instituição.
“Creio que todos entendemos a gravidade da situação em que nos encontramos. Nos vimos obrigados a um compromisso, a dar um passo atrás. Quem apoiava Frostenson retrocedeu, e ela aceitou deixar seu lugar. Quisemos também solucionar essa crise de confiança com a saída de Danius”, explicou Olsson.
Com essas cinco saídas, só 11 das 18 cadeiras da academia estão ocupadas, já que duas autoras boicotam a instituição há vários anos, por outros motivos.
O abandono do assento na academia é uma decisão simbólica, uma vez que a eleição é vitalícia, embora os membros possam optar por não participar nem das suas atividades nem das suas votações.
Segundo o Observador, com essas duas demissões, o Comitê do Nobel da Literatura não tem, neste momento, membros suficientes para eleger o vencedor desse ano, uma vez que é preciso um mínimo de 13 membros.
No entanto, em declarações ao El País, citadas pelo jornal online, fontes da academia garantem que a atribuição do prêmio não está em risco, uma vez que ainda falta muito tempo para o seu anúncio, em outubro deste ano.
Ciberia // ZAP