A Armênia e o Azerbaijão se acusaram mutuamente neste domingo (27/09) de iniciar confrontos mortais na região separatista de Nagorno-Karabakh, na fronteira entre os dois países, em meio a uma disputa territorial de décadas. Ao menos 23 pessoas foram mortas no conflito, considerado o mais grave em quatro anos.
Autoridades rebeldes afirmaram que 16 combatentes separatistas armênios foram mortos, e mais de 100 ficaram feridos nos confrontos. Ambos os lados também relataram vítimas civis.
Enquanto o Azerbaijão condenou “veementemente” a investida militar da Armênia na região, o governo armênio convocou à “mobilização geral”. Ambos os países declararam lei marcial, sob a qual lideranças militares assumem a posição de autoridades civis.
Em declaração divulgada no Twitter, o conselheiro do presidente do Azerbaijão, Hikmet Hajiyev, sublinhou que o país “condena veementemente o novo ato de agressão da Armênia”. Acusando as Forças Armadas do país vizinho de terem violado o cessar-fogo bilateral, ele mencionou um “bombardeio que afetou áreas densamente povoadas por civis”.
“Há relatos de mortos e feridos entre civis e militares”, acrescentou Hajiyev, atribuindo a responsabilidade das ofensivas ao bloco armênio, por ter “deliberadamente atacado áreas residenciais”.
Já o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, fez um apelo à “mobilização militar geral” através do Facebook, exortando o pessoal ligado às Forças Armadas a se apresentar em suas comissões militares territoriais. Segundo o correspondente da DW em Ierevan, numerosos cidadãos se reuniram no centro da capital armênia, dispostos a partir para o front.
Horas antes, o premiê denunciara em tuíte uma ofensiva do Azerbaijão “com ataques aéreos e de mísseis”, anunciando o abate de dois helicópteros e três drones azéris, assim como a destruição de três tanques.
Não há dados seguros sobre se os disparos partiram das forças governamentais armênias ou de rebeldes de Nagorno-Karabakh. Pashinian assegurou, ainda, que o Exército armênio tudo fará para “proteger a pátria da invasão”.
Araik Harutyunyan, presidente da autoproclamada República de Nagorno-Karabakh, também declarou “lei marcial e mobilização militar” numa sessão parlamentar de emergência. O território é um enclave de etnia armênia no Azerbaijão, fora do domínio azéri desde 1994. Ambos os lados mantêm forte presença militar ao longo de uma zona desmilitarizada que separa a região do resto do Azerbaijão.
O chefe da ONU, António Guterres, está “extremamente preocupado com a retomada das hostilidades” na região, informou um porta-voz em comunicado. “O secretário-geral apela veementemente aos lados para que parem imediatamente de lutar, diminuam as tensões e retornem a negociações significativas sem demora.”
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também classificou como “altamente preocupante” o retorno da violência na região, afirmando no Twitter que “a volta imediata às negociações, sem pré-condições, é o único modo de seguir adiante.”
O conflito armênio-azerbaijano data dos tempos soviéticos: em fins dos anos 80 a população majoritariamente armênia de Nagorno-Karabakh pediu para o ter
ório ser incorporado à vizinha Armênia. A subsequente guerra durou seis anos, causando cerca de 25 mil mortes. No fim, as forças armênias assumiram o controle de Karabakh.Apesar de o conflito entre os dois países ter se concluído oficialmente em 1994, as tensões e confrontos na região separatista se mantiveram, mesmo com a assinatura de um cessar-fogo em 2016. Os atuais choques armados são os mais pesados desde então.
O Azerbaijão defende que a solução do conflito com a Armênia envolve necessariamente a libertação dos territórios ocupados, exigência que tem sido apoiada por várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Armênia, por seu lado, apoia o direito à autodeterminação de Nagorno-Karabakh, defendendo a participação dos representantes do território separatista nas negociações para a resolução do conflito.