Um grupo de cientistas da Universidade de Colúmbia, nos EUA, acredita ser possível “desligar” o desejo e o prazer que sentimos quando comemos doces através da manipulação de neurônios na amígdala, o centro emocional do cérebro.
O estudo, publicado na semana passada na revista Nature, foi aplicado com sucesso em camundongos. Caso o mesmo se verifique com os humanos, a descoberta pode revolucionar a compreensão e o tratamento de transtornos alimentares, como a anorexia nervosa ou a obesidade.
As descobertas apontam que o complexo sistema gustativo do cérebro – que produz um conjunto de pensamentos, memórias e emoções quando provamos alimentos – é formado por várias unidades que podem ser isoladas, modificadas ou removidas.
“Quando o nosso cérebro sente um sabor, não só identifica sua qualidade como coreografa uma maravilhosa sinfonia de sinais neuronais, que associam a experiência ao contexto, valor hedônico, memórias, emoções e outros sentidos, de forma a produzir uma resposta coerente”, disse Charles Zuker, um dos autores do estudo.
A nova pesquisa é baseada em trabalhos anteriormente realizados por Zuker e sua equipe para mapear o sistema de degustação no cérebro.
Os cientistas já tinham revelado que quando a língua encontra um dos 5 (ou 6) sabores – doce, amargo, salgado, azedo ou umami (palavra japonesa para delicioso) – há um conjunto de células especializadas que enviam sinais para determinadas regiões do cérebro, desencadeando ações e comportamentos apropriados.
Nesta experiência em particular, os cientistas se concentraram no sabor doce e salgado e na amígdala, uma importante região do cérebro para a tomada de juízos de valor sobre informações sensoriais. Os pesquisadores já tinham concluído anteriormente que a amígdala está diretamente ligada ao córtex gustativo.
Procedimentos experimentais
Os cientistas realizaram várias experiências nas quais as conexões doces ou amargas da amígdala foram ativadas artificialmente. Por exemplo, quando as conexões doces da amígdala foram manipuladas, os ratos responderam à água como se tratasse de açúcar.
Ao manipular essas conexões, os pesquisadores conseguiram até inverter a percepção do sabor, transformando o doce em sabor aversivo ou o amargo em sabor agradável.
No entanto, quando os cientistas desligaram as conexões da amígdala, deixando o córtex gustativo inalterado, os ratos ainda eram capazes de reconhecer e distinguir o doce do amargo. Apesar de reconhecerem os sabores, os ratos não apresentavam emoções básicas a esses sabores, como preferência pelo açúcar ou aversão ao amargo.
“Seria como trincar o nosso bolo de chocolate favorito, mas não ter qualquer prazer em fazê-lo”, disse Li Wang, pós-doutoranda no laboratório de Charles Zuker.
Ao demonstrar que a identidade de um alimento e o prazer que sentimos ao comê-lo podem ser isolados e, depois, manipulados separadamente, estes cientistas abrem um caminho promissor para o tratamento de distúrbios alimentares através da amígdala.
Brevemente, a equipe vai estudar regiões adicionais do cérebro que também têm funções importantes no sistema gustativo. Por exemplo, o córtex gustativo está também diretamente ligado às regiões envolvidas nas ações motoras, aprendizagem e memória.
Ciberia // HypeScience / ZAP