“Durante muitos anos, a sra. Dilma viveu tranquilamente com seu nome. (…) Em 2015, com o processo de impeachment, cresceram a rejeição e o ódio em relação à presidente e ao Partido dos Trabalhadores. A partir de então, as brincadeiras passaram a ser mais frequentes e menos lúdicas.”
“A sra. Dilma, que à época trabalhava em uma instituição bancária, enfrentava deboches constantes dos colegas de trabalho e, em diversas situações, clientes se recusaram a ser atendidos por ela. Tudo porque se chama Dilma.”
Estes são trechos de uma ação que corre em segredo de Justiça na 3ª Vara Cível, em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo). Nela, Dilma P., de 37 anos, pede a mudança de seu nome por ser vítima de “bullying”.
“Cada vez que chego a um lugar e falo meu nome em voz alta, sou motivo de risada e depreciação. Chega uma hora que o ser humano não aguenta mais. Imagine estar num ambiente público e todo mundo zombar de você?”, lamenta.
Dilma P. diz que “nunca gostou” do nome de batismo, mas que nunca havia pensado em mudá-lo até o impeachment da petista.
“Nunca gostei do meu nome. Queria ter um nome mais popular, mas nunca pensei na vida em trocá-lo. Quando Dilma se tornou presidente, meu nome passou a ser mais conhecido e as pessoas diziam se tratar de um nome diferente. Ficavam surpresas que eu tinha o mesmo nome da presidente”, conta.
“Mas o impeachment chocou o país. Quando falo meu nome, todo mundo se lembra de Dilma e as piadas começam. Ninguém quer ser comparado a alguém que ficou marcado pela corrupção”, completa.
Atualmente desempregada, ela conta que, em seu antigo trabalho, como analista de relacionamento de um banco durante dois anos, tinha de conversar com clientes via telefone e bate-papo online. Chegou, inclusive, a pedir ao supervisor para mudar o nome. Diante da negativa, precisou criar um “roteiro” para evitar ser alvo de zombaria.
“Um cliente chegou a me dizer que, se eu estivesse diante dele, me mataria. Outro falou que não queria ser atendido por mim. Pedi ao meu superior que mudasse meu nome. Mas ele sugeriu que eu criasse um roteiro, de forma a explicar que eu apenas compartilhava o mesmo nome do da presidente. Não deveria, portanto, ser vítima da fúria das pessoas”, diz.
“Fiquei com medo. As pessoas estão com muita raiva do PT. Foi um partido que tem lá seus defeitos, mas pelo menos foi o único que fez pelo povo”, acrescenta.
Dilma P., que já votou em Lula, mas não se lembra se votou ou não em Dilma, também diz que a comparação com a ex-presidente vem tornando difícil a busca por um emprego.
“Certa vez estava participando de uma dinâmica de grupo. O recrutador pediu para que cada um dissesse seu nome. Quando chegou à minha vez, a sala inteira deu risada. Me senti péssima. Para piorar, o próprio recrutador brincou: ‘Nossa, até você procurando emprego, presidente? O negócio está feio, mesmo!‘”, diz.
“Manuela”
Cursando pedagogia, Dilma P. quer agora se chamar Manuela, uma homenagem ao pai, Manuel, já falecido. “Foi um homem muito bom que, apesar de não ter estudos, me possibilitou chegar aonde estou agora. Ele ficaria orgulhoso de mim”, diz, com a voz embargada.
Lembrada pela BBC que uma das candidatas à Presidência nas eleições deste ano também se chama Manuela (Manuela D’Ávila, PCdoB), Dilma P. diz não “temer” passar pelo “pesadelo” novamente, caso a gaúcha vença o pleito. “Se ela ganhar e vier a ser alvo de impeachment, pelo menos é um nome mais comum“, ressalva.
Atualmente, segundo dados do Censo, há cerca de 40 mil Dilmas no Brasil, a maioria no Estado da Bahia. Trata-se do 354º nome feminino mais popular do país. Maria, Ana, Francisca, Antônia e Adriana são, nessa ordem, os mais comuns. “A Lei de Registros Públicos permite a troca de nomes não como regra, mas como exceção”, explica a advogada de Dilma P., Isabelle Strobel.
É o caso de casamentos, divórcios, adoções e erros ortográficos na hora de registrá-lo no cartório. Porém, para aqueles que desejam mudar o nome por outros motivos, é preciso pedir a substituição pela via judicial.
“A lei costuma restringir bastante a troca de nomes. O requerente deve expor o motivo da mudança e alegar a razão pela qual aquele nome causa constrangimento”, assinala Strobel.
Em seguida, um juiz analisa se o motivo “é relevante ou não”, completa a advogada. Um dos objetivos é evitar, por exemplo, que um foragido possa querer mudar de nome e despistar as autoridades.
Dilma diz, no entanto, estar esperançosa de que possa haver uma decisão positiva da Justiça. “Independentemente de qual for a decisão, aonde vou, já peço para ser chamada de Manuela”, diz.
Ciberia // BBC
Ou seja, somente nome de político de esquerda. Manuela do PC do B, Dilma do PT. Depois vai querer ser chamada de Marina Silva.