Dormir encolhe o cérebro para abrir espaço a novas aprendizagens

Nova pesquisa realizada com ratos aponta uma descoberta interessante: durante o sono, as conexões entre células cerebrais – que detêm as informações aprendidas ao longo do dia – sofrem um encolhimento massivo. Isso significa que, todos os dias, uma pessoa acorda com o cérebro ligeiramente menos conectado do que na noite anterior.

Esse processo abre espaço para que possamos aprender novas memórias, enquanto as mais fracas se perdem. Como diria o autor Marie Kkondo, esse é o método cerebral de “ordenar magicamente as mudanças da vida”.

“Quando estamos despertos, aprendendo e nos adaptando aos ambientes, sinapses – ou as conexões entre os neurônios – ganham força e crescem. Mas não é possível manter esse crescimento desenfreado. Em algum momento, elas se saturam”, diz a neurocientista Chiara Cirelli, da Universidade de Wiscosin-Madison.

Reset cerebral

Após mais de uma década de estudo, Cirelli e seus colegas finalmente encontraram evidências diretas de que as sinapses se recompõem e reiniciam durante a noite. As pesquisas foram relatadas na Science.

Através de microscopia eletrônica, utilizada para examinar milhares de fatias cerebrais ultrafinas retiradas de camundongos acordados e adormecidos, foi descoberto que, após o sono, o tamanho da maioria dessas sinapses – especificamente, a superfície na qual dois neurônios se tocam – é reduzido em cerca de 18%.

Ainda que as descobertas tenham se originado a partir da pesquisa com ratos, Cirelli suspeita que essa restauração sináptica também ocorra nos seres humanos. Segundo a cientista, a evidência indireta, por exemplo, das gravações eletrofisiológicas do cérebro antes e depois do sono, reforça essa ideia.

Esse encolhimento parece poupar memórias importantes. Cerca de 20% das sinapses, que eram as maiores e poderiam conter memórias já bem estabelecidas, não sofreram redução.

Ao mesmo tempo, lembranças menos importantes podem não ser completamente excluídas, mas apenas reduzidas – embora cada uma das sinapses encolha individualmente, o padrão geral das conexões que constituem a memória permanece.

O cérebro precisa estar offline, ou desligado, para que esse encolhimento ocorra, o que poderia ser uma das razões pelas quais dormimos. “É o preço que pagamos para que seja possível aprender coisas novas”, afirma a cientista.

Ainda assim, o propósito principal de adormecer continua em discussão. Há quem sugira que a função central do sono é reparar a maquinaria celular desgastada, e uma série de estudos evidenciam o papel crítico do sono na consolidação das memórias.

Juntamente à pesquisa anterior, realizada em moscas, “essas descobertas apoiam fortemente a ideia de que o reinício sináptico é uma função antiga e evolutiva do sono”, diz Niels C. Rattenborg, do Instituto Max Plank de Ornitologia em Munique, que não estava envolvido no novo estudo.

Em outras palavras, esquecer informações não essenciais pode ser tão vital quanto aprender novos conteúdos.

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …