A sonda Hayabusa2, após seis anos de jornada, voltou com sucesso à Terra neste fim de semana, soltando uma cápsula cheia de amostras do asteroide Ryugu na remota área de Woomera, na Austrália.
A agência espacial JAXA usou o Twitter para confirmar que encontrou a cápsula por lá, e agora inicia os preparativos para resgatá-la, levando as amostras não apenas para seus laboratórios no Japão, como também para outras instalações ao redor do mundo, para que mais cientistas possam analisá-las.
A Hayabusa2 acaba de se tornar a segunda a obter sucesso na missão trazer amostras de um asteroide à Terra em toda a história da exploração espacial — a primeira foi a Hayabusa, lançada em 2003 e que chegou ao asteroide Itokawa em 2005, trazendo amostras do objeto para nosso planeta alguns anos depois.
Vale lembrar que também já recebemos amostras de um outro tipo de objeto espacial com a missão europeia Rosetta, que fez o mesmo com o cometa 67P em 2016.
E a NASA em breve entrará nessa seleta lista de agências espaciais que já coletaram amostras de pequenos objetos pelo Sistema Solar, quando a sonda OSIRIS-REx voltar ao lar após ter coletado, com sucesso, amostras do asteroide Bennu em outubro deste ano, com previsão de chegada para 2023.
O alvo da Hayabusa2 foi o asteroide Ryugu, que tem 900 metros de largura. Ela tocou a superfície e liberou projéteis para abrir uma cratera, de onde coletou amostras, o que ocorreu entre meados de 2018 e o final de 2019.
Enquanto a primeira Hayabusa trouxe para nós apenas 1 miligrama de material, espera-se que a Hayabusa2 tenha trazido cerca de 100 mg. A JAXA ainda vai levar um tempo para finalizar o processo de resgate e abertura da cápsula, para depois disso confirmar a quantidade de amostras que a missão trouxe.
Com isso, a ciência espera ter em mãos um material valioso para uma melhor compreensão sobre a formação do Sistema Solar, uma vez que este asteroide é uma rocha remanescente do processo de “nascimento” do nosso quintal espacial.
“Os materiais que formaram a Terra, seus oceanos e a vida estavam presentes na nuvem primordial a partir da qual nosso Sistema Solar se formou. No início do Sistema Solar, esses materiais estavam em contato e eram capazes de interagir quimicamente dentro dos mesmos objetos originais. Essas interações são mantidas até hoje em corpos primitivos (asteroides do tipo C); portanto, retornar amostras desses corpos para análise elucidará as origens e evolução do Sistema Solar e os blocos de construção da vida”, explica a JAXA.
A JAXA lançou a Hayabusa2 em 2014, e a sonda chegou à órbita de Ryugu em 2018. Lá, ela implantou várias mini-sondas na superfície do asteroide — minúsculos rovers capazes de dar alguns saltos, além de um módulo de aterrissagem. Em paralelo, a nave principal, que estava em órbita, desceu à superfície algumas vezes para pegar amostras.
Na primeira, em fevereiro de 2019, ela apenas coletou material que já estava disponível na superfície. Na segunda, em abril do mesmo ano, ela disparou um projétil de 2,5 kg no solo do objeto, abrindo uma cratera de 10 metros de largura ali. Então, em julho a sonda conseguiu coletar outro tipo de amostra, desta vez aquele presente um pouco abaixo da superfície — ou seja, ainda melhor preservado. A Hayabusa2 saiu dos arredores de Ryugu em novembro de 2019, quando iniciou sua viagem de volta para casa.
A sonda armazenou os dois tipos de amostras em compartimentos diferentes, para que não fossem misturados na viagem de volta, podendo ser analisados separadamente aqui na Terra. Os cientistas, então, poderão comparar os materiais para verificar a influência da radiação espacial nesses objetos cósmicos tão antigos.
Na noite de sexta-feira (4), a sonda, já na órbita da Terra, liberou a cápsula contendo as amostras a uma distância de 220 mil quilômetros da superfície do planeta. Depois disso, a espaçonave acionou mais uma vez seus motores para se afastar de nós mais uma vez — a partir de agora, ela parte rumo ao asteroide (98943) 2001 CC21, devendo chegar a esse destino em 2026.
Mas sua missão ainda vai mais longe: em 2031, ela chegará ao asteroide 1998 KY26. A ideia é aproveitar a longa vida útil da sonda para estudar o maior número possível de objetos com um único lançamento.
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