Em busca das origens da vida, pousamos uma sonda em um asteroide distante

JAXA

A sombra de Hayabusa 2 sobre o asteroide Ryugu durante uma aproximação em outubro de 2018

A sonda japonesa Hayabusa 2 pousou com sucesso na superfície do asteroide Ryugu, um momento histórico na exploração espacial que pode nos fornecer detalhes fascinantes sobre as origens da vida na Terra.

A sonda foi enviada para coletar amostras de um asteroide a mais de 300 milhões de quilômetros de distância.

De acordo com autoridades da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), na sexta-feira, Hayabusa 2 pousou brevemente sobre Ryugu, disparou uma “bala” na superfície para recolher a poeira levantada, e retornou a sua posição orbital original.

Toda a descida foi automatizada e levou cerca de 23 horas. Ao entrar em contato suavemente com a superfície, a sonda deveria ter uma velocidade de apenas sete centímetros por segundo.

Se tudo ocorreu conforme o planejado, uma amostra de até 0,1 grama de material foi coletada em uma cápsula para ser transportada de volta à Terra no final de 2020.

Próximos passos

A comunicação com Hayabusa 2 é cortada às vezes porque suas antenas nem sempre estão apontadas para a Terra, e pode levar mais alguns dias para confirmar que a bala foi de fato disparada para permitir a coleta de amostras.

O procedimento complicado levou menos tempo do que o esperado e pareceu correr sem problemas, anunciou o gerente de missão, Makoto Yoshikawa.

É realmente emocionante, porque é a primeira vez na história que podemos ter uma amostra de um asteroide carbonoso”, disse Patrick Michel, do Observatório Côte d’Azur, na França, um dos cientistas da missão.

Essa amostra deve levar a um salto, ou novas descobertas, na ciência planetária. Acredita-se que o asteroide contenha quantidades relativamente grandes de matéria orgânica e água de cerca de 4,6 bilhões de anos atrás, quando o sistema solar nasceu.

Durante uma missão posterior, a Hayabusa 2 irá disparar um “impactador” para explodir material debaixo da superfície de Ryugu, permitindo a coleta de materiais “frescos” não expostos a milênios de vento e radiação.

Os cientistas esperam que essas provas possam fornecer respostas a algumas questões fundamentais sobre a vida e o universo, incluindo se elementos do espaço ajudaram a dar vida à Terra.

Ryugu tem pouco mais de um quilômetro, mas acredita-se que contém um imenso tesouro científico: material primitivo remanescente do sistema solar primordial de 4,6 bilhões de anos atrás, uma época anterior à formação dos planetas ao redor do sol.

Para estudar essa rocha rica, a Hayabusa 2 já criou mapas globais e enviou três pequenos robôs para a superfície, no final de 2018. O principal objetivo da missão sempre foi coletar diretamente amostras da superfície, no entanto, usando equipamentos semelhantes implantados pela primeira vez em uma missão antecessora, a Hayabusa 1.

Histórico

Originalmente, o pouso da sonda tinha sido programado para o ano passado. Foi adiado depois que pesquisas descobriram que a superfície do asteroide era mais acidentada do que se pensava inicialmente, forçando a JAXA a levar mais tempo para encontrar um local de pouso adequado.

A missão Hayabusa 2 foi lançada em dezembro de 2014 e está programada para retornar à Terra com suas amostras em 2020.

A sonda é uma segunda versão de uma missão que retornou de um asteroide menor, em forma de batata, em 2010, com amostras de poeira, apesar de vários contratempos durante sua odisseia épica de sete anos.

Essa única missão anterior de retorno de amostras de asteroide, Hayabusa 1, devolveu grãos de poeira do tipo S (ou pedregosos), mas o Itokawa é um objeto menos intocado que o Ryugu, que parece ter formado consideravelmente mais tarde na história do sistema solar.

Possibilidades incríveis

O plano original da JAXA exigia três pousos separados com coletas de amostras, devolvendo material de diferentes locais. Preocupações sobre o terreno acidentado, no entanto, significam que apenas mais uma aterrissagem provavelmente será tentada, uma que será ainda mais ambiciosa.

Não antes de abril, a sonda disparará um “impactador” pesando um quilograma em direção à superfície a uma velocidade de dois quilômetros por segundo, escavando uma pequena cratera de dois a três metros de diâmetro. A equipe decidirá se descerá e tentará coletar uma amostra de dentro dessa cratera, recolhendo material de dentro do próprio asteroide – algo que nunca foi feito antes.

Os pesquisadores esperam aprender como os asteroides – e talvez os cometas – semearam a Terra com água e outros ingredientes essenciais para a vida. Se e quando as amostras originais desses asteroides primordiais forem devolvidas, equipes globais de cientistas irão vasculhá-las em busca de materiais orgânicos, como aminoácidos, que podem fornecer novas pistas para os nossos primórdios.

Analisar a composição isotópica das amostras também revelará com precisão quantos anos cada asteroide tem, reforçando a cronologia de transformação do nosso sistema solar.

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