Uma estudante de 21 anos, a bordo de um avião no aeroporto de Gotemburgo, Suécia, conseguiu evitar que um requerente de asilo, de nacionalidade afegã, fosse deportado, tendo se recusado a sentar no seu lugar enquanto o homem não fosse retirado da aeronave.
Em entrevista ao The Guardian, Elin Ersson, estudante de 21 anos, espera que “as pessoas comecem a se questionar sobre como a Suécia trata os refugiados” e apela para que “comecem a olhar para eles, cujas vidas estão sendo destruídas pelas autoridades de imigração”.
Segundo o jornal britânico, a estudante da Universidade de Gotemburgo comprou um bilhete de avião com destino à Turquia, na segunda-feira (23), tendo percebido que um jovem afegão iria ser deportado nessa viagem. Na verdade, essa pessoa não estava na aeronave, mas a ativista sueca descobriu que outro afegão, de cerca de 50 anos, estava a bordo e seguia com o mesmo “destino”.
Mal entrou no avião, Elin decidiu fazer um vídeo ao vivo do seu protesto nas redes sociais, falando em inglês para que mais pessoas a entendessem. As imagens rapidamente se espalharam pela internet.
A jovem recebeu apoio e hostilidade dos passageiros que estavam a bordo do avião. “Eu não quero que destruam a vida de um homem só porque não querem perder o voo. Não vou me sentar até que essa pessoa saia deste avião”, dizia.
“Vou fazer o que estiver ao meu alcance para preservar a vida dessa pessoa. Enquanto uma pessoa estiver de pé, o piloto não pode levantar voo. Tudo o que eu quero é parar a deportação e depois vou seguir as regras. Isso é tudo perfeitamente legal e não estou cometendo nenhum crime“, acrescenta, enquanto se ouve um segurança pedindo repetidamente à estudante para que parasse de filmar.
Em seguida, quando um passageiro furioso tenta lhe tirar o telefone, Elin não desiste: “O que é mais importante? Uma vida ou o seu tempo? Quero que esse senhor saia do avião porque não está seguro no Afeganistão. Estou tentando mudar as regras do meu país porque não concordo com elas. Não está certo enviar pessoas para o inferno“.
Depois de alguns momentos de tensão, com as autoridades do aeroporto recusando usar a força para parar a ativista, os passageiros desataram em um enorme aplauso quando o requerente de asilo foi, de fato, retirado do avião.
Elin contou ao jornal inglês que trabalha como voluntária em grupos de refugiados há cerca de um ano.
“As pessoas no Afeganistão não estão seguras. Não sabem se vão viver mais um dia. Conheci muitas pessoas que me contaram suas histórias. Acredito cada vez mais que ninguém deve ser deportado para lá porque não é um país seguro. A forma como estamos tratando os refugiados agora, acho que podemos fazer muito melhor, especialmente em um país rico como a Suécia“.
Suécia e a questão dos refugiados
A Suécia vai às eleições no próximo mês de setembro, com a coligação de centro-esquerda que está no poder querendo manter as expulsões de requerentes de asilo cujos pedidos foram recusados.
“Se veem o pedido rejeitado têm que voltar para casa. De outra forma, não vamos conseguir ter um sistema de migração apropriado”, afirmou o primeiro-ministro, Stefan Löfven, no ano passado, depois de um requerente de asilo do Uzbequistão ter atropelado várias pessoas em Estocolmo, tendo matado cinco pessoas.
Espera-se que dezenas de milhares de casos de deportação sejam entregues à polícia, enquanto o país continua processando pedidos de asilo, depois de 163 mil pessoas terem solicitado asilo na Suécia em 2015.
Em 2016, o número caiu significativamente para apenas 29 mil pessoas, seguido de apenas 26 mil em 2017. No ano passado, as autoridades deportaram 12.500 pessoas e a taxa de expulsões até agora, no ano de 2018, já é um pouco maior.
De acordo com um representante da polícia sueca, as deportações normalmente decorrem como previsto, embora às vezes aconteçam alguns casos semelhantes ao de Elin. “Tentamos uma ou duas vezes, e se não resultar, temos que alugar um avião privado para mandar as pessoas de volta ao Afeganistão ou onde seja”, explica.
Segundo o jornal britânico, o jovem afegão referido pela estudante de 21 anos será deportado na próxima segunda-feira. Relativamente ao homem que estava no avião, ainda não se sabe mais detalhes do seu processo.
Quanto a Elin, não se tratou de um protesto com enquadramento criminal. No entanto, se a companhia aérea ou algum passageiro decida avançar com um processo judicial, a ativista arrisca o pagamento de uma multa.
Ciberia // ZAP