De acordo com uma nova pesquisa, enquanto ratos estão acordados, seus fígados crescem em quase 50%. Uma vez que estão dormindo, os órgãos encolhem ao seu tamanho original. Este ciclo acontece dia após dia, e o fígado é o único órgão que os pesquisadores sabem que se transforma dessa maneira.
O fígado é um órgão muito engenhoso que desempenha várias funções, incluindo a desintoxicação do sangue e a regulação do metabolismo. Além disso, se até dois terços dele forem removidos, ele ainda pode se regenerar.
Os resultados deste estudo, porém, mostram que o fígado é ainda mais versátil: também muda de tamanho todos os dias.
Estudos anteriores com ultrassom sugeriram que a mesma variação ocorre em seres humanos, mas esta é a primeira vez que os cientistas foram capazes de identificar o mecanismo celular que impulsiona este processo e ligá-lo aos ritmos circadianos diários.
Se a mesma coisa for de fato verificada em nós, isso significa que não só os nossos fígados são ainda mais estranhos do que imaginávamos, mas também que padrões de sono ruins podem ter um impacto sério nas nossas funções hepáticas.
O experimento foi conduzido com ratos, que têm um ritmo circadiano de 24 horas muito parecido com o nosso, exceto que são noturnos – ou seja, os animais se alimentam e correm enquanto está escuro, e dormem durante as horas de sol.
A equipe mostrou que, durante a noite, enquanto os ratos estavam ativos e alimentados, o fígado atingiu máxima eficiência e aumentou em tamanho por quase a metade, antes de encolher de volta para suas dimensões iniciais enquanto os ratos dormiam durante o dia.
“Em roedores seguindo um ritmo circadiano usual, observamos que o fígado aumenta gradualmente durante a fase ativa para atingir um pico de mais de 40% no final da noite, e que retorna ao seu tamanho inicial durante o dia”, disse o pesquisador Flore Sinturel, da Universidade de Genebra, na Suíça.
O aumento foi devido às células do fígado se expandindo, bem como o seu teor de proteína aumentando durante as horas de vigília.
Fígado e sono
O número de ribossomos em cada célula – as organelas responsáveis pela produção de proteína – também flutuou de acordo com o ritmo circadiano dos ratos.
Não foi apenas a exposição à luz que controlou o tamanho do fígado – a equipe descobriu que quando os ratos tinham seu ritmo biológico normal invertido e eram forçados a comer e ficar acordados durante o dia em vez de à noite, este padrão não aconteceu, mesmo se estivessem comendo a mesma quantidade de alimentos.
Esta é a primeira vez que os pesquisadores descobriram como o fígado flutua em resposta ao ritmo circadiano e aos períodos de alimentação e jejum – e até onde os cientistas estão cientes, este é o único órgão que oscila dessa maneira.
Considerando que muitos de nós possuem padrões de alimentação e sono bagunçados, a pesquisa sugere que nossos estilos de vida podem impactar o desempenho do fígado.
O próximo passo da pesquisa é testar se a mesma coisa ocorre em seres humanos, e se é governada pelo mesmo mecanismo biológico. Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Cell.
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