Uma equipe internacional liderada por pesquisadores do Departamento de Patologia da Universidade de Pittsburgh (EUA) criou pequenos fígados através de engenharia genética utilizando células da pele humanas, e em seguida os transplantaram com sucesso em ratos.
Os cientistas ainda têm um longo caminho a percorrer antes de poder usar essa técnica para ajudar diretamente seres humanos, mas este estudo é uma prova de conceito essencial para uma futura alternativa a transplantes de fígado, um procedimento caro e restrito pelo número de doadores disponível.
De acordo com o último Registro Brasileiro de Transplantes, veículo oficial da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, entre janeiro e março de 2020, 592 transplantes de fígado foram realizados, enquanto 1.105 pacientes brasileiros continuaram à espera de um órgão. Destes últimos, 796 ingressaram na lista de espera durante o próprio primeiro trimestre de 2020, e 205 faleceram.
Em uma entrevista realizada em 2012 pelo Infonet, Henrique Sérgio de Morais Coelho, então presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia, afirmou que há uma grande incidência de doenças hepáticas no Brasil, enquanto ao mesmo tempo há uma carência de especialistas e de doadores que possam contribuir para aumentar as estatísticas de transplante de fígado.
Para criar os fígados minúsculos, os pesquisadores utilizaram células da pele doadas por voluntários humanos. Elas foram revertidas a um estado de célula-tronco conhecido como “célula-tronco pluripotente induzida”. A partir dele, qualquer tipo de célula humana pode ser criado.
Para que se tornassem células de fígado, os cientistas induziram a diferenciação das células com a ajuda de hormônios e outras substâncias químicas.
Por fim, essas células foram cultivadas em uma estrutura de fígado de rato. Esse enxerto não possuía células dos roedores; foram as células-tronco humanas que preencheram o tecido funcional do fígado, juntamente com seu sistema vascular e rede de ductos biliares.
Enquanto demora cerca de dois anos para um fígado humano amadurecer desde o nascimento, os pesquisadores foram capazes de cultivar o órgão minúsculo em laboratório apenas algumas semanas.
Os órgãos amadurecidos foram transplantados em cinco ratos com sucesso. Por um breve período, os animais viveram com fígados humanos minúsculos em seus corpos, algo até então inédito.
Enquanto transplantados, os “mini fígados” pareceram funcionais. Depois de quatro dias, os ratos foram sacrificados e dissecados, e os pesquisadores confirmaram que órgãos estavam de fato funcionando.
Testes revelaram, por exemplo, que eles secretaram ácidos biliares e ureia, além de os pesquisadores terem encontrado proteínas hepáticas humanas no sangue dos animais. Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Cell Reports.
Isso não quer dizer que os transplantes funcionaram perfeitamente; os pesquisadores também encontraram evidências de fluxo sanguíneo deficiente, trombose e isquemia, o que aponta para as dificuldades em conectar adequadamente enxertos como esse à rede vascular de um animal, um problema que ainda tem de ser superado.
Os pesquisadores estimam que ainda levará pelo menos uma década até que esse tipo de procedimento possa ser realizado em seres humanos, algo que dependerá dos resultados de futuros experimentos, incluindo testes de segurança.
Enquanto isso, o método desenvolvido pela equipe pode ser utilizado em novos estudos para simular doenças em diferentes órgãos e testar tratamentos.
// HypeScience