Um novo estudo da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, concluiu que pessoas que tomam drogas comuns para azia por meses a anos podem enfrentar riscos elevados de morte por doença cardíaca, insuficiência renal ou câncer de estômago.
Essa é somente a mais recente pesquisa a levantar preocupações sobre medicamentos chamados “inibidores da bomba de prótons” (IBPs), como omeprazol, lansoprazol e esomeprazol. Outros estudos já ligaram o uso prolongado de tais remédios a riscos fatais no passado.
O novo estudo incluiu mais de 200.000 veteranos americanos, em sua maioria homens mais velhos. Todos tomavam um IBP ou um bloqueador H2, outra classe de drogas para azia, começando entre 2002 e 2004. Nos próximos 10 anos, 38% dos usuários de IBP morreram, assim como quase 36% daqueles que usavam H2.
Os riscos eram relativamente pequenos. Por exemplo, ao longo de 10 anos, 13% dos usuários de IBPs morreram de uma condição cardiovascular, incluindo doença cardíaca ou acidente vascular cerebral, em comparação com pouco mais de 11% das pessoas que usaram bloqueadores H2, outra classe de drogas para azia.
Quando os pesquisadores pesaram outros fatores – como idade dos pacientes e condições crônicas de saúde -, o uso de IBPs foi associado a um risco de morte cardiovascular aproximadamente 18% maior.
Se os IBPs contribuem para as mortes, não está claro por quê. Pesquisas de laboratório sugerem que as drogas podem causar disfunção no revestimento dos vasos sanguíneos, ou perturbar a função imunológica do intestino e a composição bacteriana normal.
As drogas
Os IBPs funcionam bloqueando o sistema enzimático que cria ácido gástrico. Eles são comumente prescritos para a doença do refluxo gastroesofágico, onde o ácido do estômago escapa cronicamente para o esôfago (o tubo que liga a boca e o estômago).
Muitas pessoas podem tomar um IBP por um curto período, o que permite que o tecido danificado no esôfago se cure. Em seguida, os pacientes podem mudar para um tratamento diferente, como um bloqueador H2. Esses medicamentos incluem drogas como cimetidina, famotidina e ranitidina.
No entanto, alguns pacientes com refluxo precisam de tratamento prolongado com IBPs. Isso inclui pessoas com úlceras estomacais recorrentes ou esôfago de Barrett – sérios danos ao revestimento esofágico que podem aumentar o risco de câncer.
O problema é que, com base nos registros médicos dos pacientes do estudo, muitos daqueles tomando IBPs não tinham necessidade documentada de um.
“Isso é inquietante”, disse o pesquisador Dr. Ziyad Al-Aly, professor da Escola de Medicina da Universidade de Washington. “Sugere que muitas pessoas estavam usando um IBP sem realmente precisar de um. Podiam estar assumindo um risco sem obter nenhum benefício”.
Antes de começar a tomar qualquer remédio do tipo por conta própria, Al-Aly recomenda que você converse com um médico.
O Dr. Lawrence Kim, membro da diretoria da Associação Americana de Gastrenterologia, explicou ao portal WebMD que o estudo atual, como outros anteriores, é apenas “observacional”, ou seja, usou registros médicos para rastrear os resultados dos pacientes.
Esses tipos de estudos não podem provar causa e efeito, o que sugere que pode haver outras explicações para os maiores riscos observados entre os usuários de IBPs.
Em 2017, a associação publicou uma revisão das pesquisas sobre o assunto, concluindo que as evidências que sustentam todos esses riscos são de baixa a muito baixa qualidade.
“Portanto, não há evidências suficientes para determinar que esses resultados adversos sejam provavelmente um efeito da terapia com IBP”, destaca Kim. Os resultados do novo estudo foram publicados na revista científica BMJ
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