Estudo mostra crianças desistindo de comida mesmo estando com fome para ajudar quem precisa

A maior ironia do mundo moderno é que, enquanto a fome atinge mais de 820 milhões de pessoas, cerca de 66 toneladas de alimentos são desperdiçadas por segundo no mundo.

Diante disto, hoje o maior gesto de altruísmo que podemos ter é oferecer comida a quem tem fome. No entanto, se esta é uma atitude da qual estamos acostumados a ver nos adultos, seriam as crianças capazes de desistir de sua própria comida para ajudar quem mais precisa?

Em um estudo encabeçado pelo Instituto de Aprendizagem e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, a resposta é sim, já que o comportamento altruísta já começa na infância.

A pesquisa foi feita com quase 100 crianças de 19 meses de idade, que doaram seu próprio lanche – mesmo estando com fome a um estranho em necessidade. As descobertas não apenas mostram que os jovens se envolvem em comportamento altruísta, mas também sugerem que as primeiras experiências sociais podem moldar esse altruísmo.

Segundo Rodolfo Cortes Barragan – principal autor do estudo, o altruísmo é um dos aspectos mais interessantes que nos distingue enquanto seres humanos: “É uma parte importante do tecido moral da sociedade. Nós, adultos, ajudamos um ao outro quando vemos alguém carente e fazemos isso mesmo que haja um custo para nós. Então testamos as raízes disso em bebês.”

O desafio dos pesquisadores era compreender se os bebês humanos eram capazes de agir além do interesse próprio, diante de uma das necessidades biológicas mais fundamentais: comida. No experimento, a criança e o pesquisador adulto sentaram-se à mesa e o pesquisador mostrou à criança um pedaço de fruta. O que aconteceu a seguir foi determinado se a criança estava no grupo controle ou no grupo teste.

No grupo de controle, o pesquisador jogou gentilmente o pedaço de fruta em uma bandeja no chão além de seu alcance, mas ao alcance da criança. O pesquisador não mostrou expressão e não tentou recuperar o fruto. Já no grupo de teste, ele fingiu soltar acidentalmente a fruta na bandeja e alcançá-la sem sucesso.

Segundo o autor, apenas este gesto de se esforçar para alcançar a comida foi suficiente para desencadear uma resposta de ajuda nas crianças. Mais da metade das crianças do grupo de teste pegou a fruta e a deu ao adulto, em comparação com 4% das crianças do grupo controle.

Em um segundo experimento com outras crianças, os pais foram convidados a trazer o filho imediatamente antes do lanche ou das refeições programadas, quando era provável que ela estivesse com fome.

Os cenários do grupo de controle e teste foram repetidos, mas com crianças que agora estavam mais motivadas a colher os frutos para si. O resultado é que, enquanto 37% do grupo de teste ofereceu a fruta ao pesquisador, nenhuma das crianças no grupo de controle o fez.

Segundo os pesquisadores, experiências vividas e certas origens culturais definem se uma criança terá, ou não, gestos altruístas. Porém, crianças que crescem com irmãos também são mais propensas a ter atos de generosidade e a dividir. De acordo com Barragan, a pesquisa irá continuar: “Se pudermos descobrir como promover o altruísmo em nossos filhos, isso pode nos levar a uma sociedade mais solidária.”

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