A ofensiva lançada pelos EUA, Reino Unido e França contra o governo sírio na noite desta sexta-feira (13) consistiu em três ataques contra instalações utilizadas para produzir e armazenar armas químicas, informou o Pentágono.
O primeiro dos ataques, perto de Damasco, teve como objetivo um centro de pesquisa científica utilizada, segundo o chefe de Estado Maior Conjunto dos EUA, general Joseph Dunford, para “desenvolver, produzir e testar armas químicas e biológicas”.
O segundo objetivo dos EUA e aliados europeus foi um depósito de armas químicas situado a oeste de Homs, que segundo Dunford armazenava as principais reservas de gás sarin nas mãos do governo de Bashar al-Assad.
Por último, os três países atacaram outro armazém de armas químicas e um “importante centro de comandos”, ambos situados perto do depósito de armas químicas a oeste de Homs.
“Os alvos atacados e destruídos estavam associados ao programa de armamento químico do regime sírio. Também selecionamos alvos que minimizassem o risco para civis inocentes”, afirmou Dunford em conferência de imprensa.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condenou os ataques químicos “monstruosos” levados a cabo pelo regime de Damasco e prometeu que a operação irá durar “o tempo que for necessário”.
De Londres, a primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou que não existia “alternativa ao uso da força”. “Não podemos tolerar a banalização do uso das armas químicas”, afirmou, por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, em comunicado.
Mais de 40 pessoas morreram e 500 foram afetadas no ataque de 7 de abril contra a cidade rebelde de Douma que, segundo organizações não-governamentais no terreno, foi realizado com armas químicas.
A oposição síria e vários países acusam o regime de Al-Assad da autoria do ataque, mas Damasco nega e seu principal aliado, a Rússia, afirmou que o ataque foi encenado com a ajuda de serviços especiais estrangeiros.
Na manhã deste sábado (14), centenas de sírios se reuniram na histórica praça Omayyad, da capital síria, balançando bandeiras, batendo palmas e dançando em sinal de vitória, festejando os ataques perpetrados pelos EUA e aliados.
“Missão cumprida”, diz Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste sábado (14) que está orgulhoso da ação militar norte-americana contra a Síria. Em sua conta no Twitter, Trump disse que “a missão foi cumprida” e o “resultado não poderia ser melhor”.
Ele também agradeceu ao apoio militar do Reino Unido e da França e elogiou a “sabedoria e força” dos aliados. A declaração de Trump segue a avaliação feita pelo chefe do Estado Maior norte-americano, em entrevista coletiva à imprensa, na manhã de hoje. Para o general Kenneth F. MacKenzie Jr, a ação militar foi bem-sucedida e efetiva.
Na noite desta sexta-feira (13), foram disparados 105 mísseis contra alvos sírios, onde, segundo o governo norte-americano estaria sendo desenvolvido um programa de uso de armas químicas. Os Estados Unidos justificam o ataque como uma resposta internacional ao uso este tipo de arma.
O Pentágono ainda não divulgou quais seriam as provas que baseiam a convicção de que o governo sírio estaria usando armas químicas. Ainda hoje, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reunirá para discutir a ofensiva contra a Síria. A reunião foi solicitada pela Rússia.
Rússia avisa que ataque terá consequências
“Os piores presságios se cumpriram. Não ouviram nossas advertências. Voltaram a nos ameaçar. Tínhamos advertido de que essas ações não ficarão sem consequências. Toda a responsabilidade recai sobre Washington, Londres e Paris”, afirmou o embaixador da Rússia em Washington, Anatoli Antónov, em declaração oficial difundida pela embaixada.
O chefe da delegação diplomática russa em Washington qualificou de “inadmissíveis” as palavras do presidente norte-americano sobre a responsabilidade de Vladimir Putin no suposto ataque com armas químicas contra a cidade síria de Douma.
“Os ataques ao presidente Vladimir Putin são inaceitáveis e inadmissíveis. Os EUA, um país que têm o maior arsenal de armas químicas do mundo, não têm o direito moral de culpar outros países”, assinalou Antónov.
Os ataques com mísseis foram realizados “sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, em violação da Carta das Nações Unidas e de normas e princípios do direito internacional” e constituem “um ato de agressão contra um Estado soberano que está na vanguarda da luta contra o terrorismo”, disse Putin em comunicado.
“Especialistas militares russos que visitaram o local desse incidente imaginário não encontraram evidências de uso de cloro ou outras substâncias tóxicas, e nenhum morador local confirmou um ataque químico”, afirma Putin no comunicado.
Segundo o líder russo, o Ocidente tem “mostrado um desprezo” pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), que deveria começar seus trabalhos de verificação no local neste sábado, ao optar por “uma ação militar sem esperar pelos resultados da investigação”.
“Através das suas ações, os EUA agravaram a crise humanitária na Síria, trazem sofrimento para a população civil, favorecem os terroristas que assolam há sete anos o povo sírio e causam uma nova onda de refugiados”, considerou o Kremlin.
A Rússia anunciou que pedirá uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU após os ataques ocidentais contra alvos na Síria.
“Flagrante violação do direito internacional”
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores iraniano, Bahram Qasemi, denunciou em comunicado que o ataque realizado nesta madrugada ignora “a soberania e a integridade territorial da Síria”. “Os EUA e seus aliados são responsáveis pelas consequências regionais dessa ação”, acrescentou.
Segundo o Irã, os EUA, a França e o Reino Unido decidiram bombardear a Síria “sem qualquer prova” do suposto ataque químico e sem esperar por peritos internacionais.
Teerã, aliada de Damasco, considera que as acusações de ataques químicos foram “uma desculpa” para justificar o ataque militar deste sábado.
“A Guerra Fria voltou”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu neste sábado aos Estados-membros que exerçam moderação e se abstenham de qualquer ação que possa levar a uma escalada de tensão após os ataques na Síria.
“Eu apelo a todos os Estados-membros para que exerçam contenção nestas circunstâncias perigosas e para evitar todos os atos que possam agravar a situação e o sofrimento do povo sírio”, referiu em comunicado citado pela AFP.
O secretário-geral adiou uma viagem planejada à Arábia Saudita para gerir as consequências do incidente. A intervenção militar ocidental contra a Síria não foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Nesta sexta-feira (13), António Guterres já tinha alertado para o retorno da Guerra Fria e denunciou que a situação na Síria representa o maior perigo para a paz e segurança mundiais. “A Guerra Fria voltou”, afirmou na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas pedida pela Rússia.
O secretario geral da Otan, Jens Stoltenberg, já apoiou o ataque conjunto realizado nesta madrugada e considerou que isso “reduzirá a capacidade do regime” de Assad de voltar a atacar a população com esse tipo de arma.
A chanceler alemã, Angela Merkel, também já afirmou que o ataque foi uma resposta “necessária e apropriada”. “Nós estamos ao lado dos nossos aliados americanos, britânicos e franceses” que “assumiram suas responsabilidades”.
Ciberia // Agência Brasil / ZAP