“Não podemos excluir nenhuma possibilidade”. É assim que o embaixador da Rússia na ONU se refere à tensão que continua na Síria. O presidente francês assegura que tem provas contra o regime de Bashar al-Assad, mas há esperança de entendimento entre russos e norte-americanos para evitar a guerra.
A Rússia continua a avisar os EUA de que atacar a Síria significa entrar em guerra com os russos, que se mantêm como aliados do presidente sírio Bashar al-Assad, responsabilizado por vários países pelos ataques com armas químicas, perpetrados sobre a cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental.
“Temos visto mensagens de Washington que são muito pacíficas“, alerta o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, citado pela agência Reuters.
Segundo o diplomata russo, a “prioridade imediata é evitar o perigo de guerra“. Assim, avisa os Estados Unidos e seus aliados de que não devem utilizar a força contra a Síria.
“As ameaças são uma violação à Carta das Nações Unidas”, afirma, acrescentando que uma intervenção militar do Ocidente seria “muito perigosa”, uma vez que “os militares russos estão lá”, a convite das autoridades sírias, salienta.
O diplomata russo indica também que o país pediu uma reunião pública do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Síria, com a presença do secretário-geral da ONU, o português António Guterres. Ele deverá intervir “num futuro próximo”, afirma Vassily Nebenzia.
Na terça-feira (10), três resoluções relacionadas com o suposto ataque químico sírio foram rejeitadas pelo Conselho de Segurança. Uma das resoluções foi apresentada pelos EUA e os outros dois textos foram propostos pela Rússia.
Macron diz ter provas contra o regime de Assad
Entretanto, o presidente francês, Emmanuel Macron, assegura que tem “provas” de que o regime de Assad utilizou armas químicas no ataque a Douma, onde morreram mais de 40 pessoas.
“Temos provas de que, na semana passada, foram utilizadas armas químicas por parte do regime de Bashar al-Assad”, referiu Macron, em entrevista à televisão TF1, cita a Lusa.
“Estamos na Síria para lutar contra o terrorismo, contra o Estado Islâmico. Foi na Síria que organizaram os atentados”, referiu ainda Macron, alertando contudo, que “as diferentes guerras em curso não permitem que se faça de tudo”.
França mantém um forte dispositivo militar na zona da Síria, país que bombardeou em 2016, no seguimento dos atentados terroristas de Nice. Na época, ainda com François Hollande como presidente, os alvos das forças militares francesas foram instalações do Estado Islâmico em várias cidades sírias.
A possibilidade de a França voltar a atacar território sírio ganha força, com as recentes posições de responsáveis do país. O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, disse, na semana passada, que o recurso a armas químicas é “uma linha vermelha” que não deve ser ultrapassada, salientando que Macron decidiria se ia ou não atacar a Síria nos próximos dias.
“Tomaremos decisões em tempo oportuno, quando as considerarmos mais úteis e mais eficazes”, afirma o presidente francês, salientando que é preciso “assegurar que o direito internacional é respeitado e fazer de tudo para que haja um cessar-fogo”.
Putin quer ser avisado com antecedência dos ataques
Macron revela ainda que tem mantido contato permanente com o presidente russo, Vladimir Putin. E da Grã-Bretanha chega a notícia de uma possibilidade de entendimento entre a coligação internacional e a Rússia quanto a eventuais bombardeios à Síria.
O jornal Telegraph refere que os ataques aéreos são “coordenados com a Rússia”.
“O Kremlin reivindicou uma linha segura para os EUA e a Rússia se comunicarem sobre suas operações na Síria”, nota o diário, realçando que Putin espera que os EUA e aliados revelem “antecipadamente a localização dos seus alvos”, de modo a evitar um banho de sangue, e a garantir que os ataques atinjam apenas instalações militares.
Nos EUA, refere-se que foram identificados oito potenciais alvos na Síria, incluindo dois aeródromos, um centro de pesquisas e uma instalação de armas químicas.
Donald Trump tinha avisado a Rússia de que os mísseis rumo à Síria “estavam a caminho”, mas mudou seu discurso, passando a afirmar que um ataque poderia estar para acontecer “muito em breve ou não tão cedo”. A Casa Branca acabou anunciando oficialmente que ainda não tinha sido tomada nenhuma decisão sobre a Síria.
Assad continua a negar uso de armas químicas
Entretanto, o presidente sírio assegurou que as ameaças ocidentais de ataques à Síria se baseiam “em mentiras” e visam desvalorizar os ganhos recentes das suas forças nos arredores de Damasco.
Bashar al-Assad continua a negar o uso de armas químicas, assim como a Rússia, contra a argumentação da oposição síria e de vários países.
Para Assad, os ocidentais estão reagindo dessa forma porque “perderam a aposta” que fizeram na oposição ao seu regime. O presidente sírio também alerta que qualquer ação militar ocidental “desestabilizaria ainda mais a região”.
Ciberia, Lusa // ZAP