Os exames feitos pelo presidente Jair Bolsonaro tiveram resultado negativo para o novo coronavírus, segundo laudos recebidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e divulgados publicamente nesta quarta-feira (13/05), após autorização do ministro Ricardo Lewandowski.
Os documentos mostram que Bolsonaro usou os pseudônimos “Airton Guedes” e “Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz” para realizar os exames, embora outros dados pessoais, como CPF, RG e data de nascimento, tenham sido informados corretamente.
O presidente fez os testes em março, após retornar de uma viagem aos Estados Unidos. Ele afirmou à época que testou negativo em todos eles, mas vinha se recusando a apresentar os laudos.
Dos três exames entregues ao STF, dois foram realizados no laboratório Sabin e um na Fiocruz. Neste último, Bolsonaro foi identificado apenas por um número, “05”, segundo a imprensa brasileira. Dados de seus documentos não foram informados nesse caso.
Os documentos só foram divulgados após o jornal O Estado de S. Paulo mover uma ação na Justiça para ter acesso ao resultado dos testes. A Justiça deu duas vezes ganho de causa ao jornal, mas a defesa do presidente recorreu a instâncias superiores.
Na sexta-feira passada, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, suspendeu a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que obrigara o governo federal a apresentar à Justiça os exames.
Na decisão, Noronha entendeu que é assegurado ao presidente e a todos os cidadãos a proteção à privacidade, acatando, assim, a argumentação da defesa de Bolsonaro.
Diante disso, O Estado de S. Paulo recorreu na terça-feira ao STF, a última instância possível, e Lewandowski foi escolhido relator do caso. O jornal argumentou que a liberdade de imprensa contempla o acesso a todas as informações de interesse público.
Os exames foram, por fim, entregues na terça-feira pela Advocacia-Geral da União (AGU), e nesta quarta-feira Lewandowski autorizou a divulgação dos laudos.
O interesse pelos resultados dos exames de Bolsonaro foi despertado na primeira quinzena de março, quando duas dezenas de membros do governo contraíram a doença após o presidente e ministros voltarem de uma viagem aos EUA. Mesmo com a contaminação avançando entre seu círculo, Bolsonaro se juntou a aglomerações, como protestos inconstitucionais em Brasília, abraçando e cumprimentando apoiadores.
Na época, ele afirmou que os exames tiveram resultado negativo, mas nunca mostrou os documentos. Nas semanas seguintes, Bolsonaro continuou a minimizar a doença e chegou a afirmar que, se a contraísse, ela não seria mais que uma “gripezinha” por causa do seu “histórico de atleta”.
O presidente também demonstrou irritação com a cobrança. “Vocês nunca me viram aqui rastejando, com coriza… eu não tive, pô. E não minto. E não minto”, afirmou em 28 de abril, argumentando ainda que a divulgação dos resultados violaria sua privacidade.
“Se nós dois tivermos com aids [disse ele a um jornalista], por exemplo, a lei nos garante o anonimato. Por que pra mim tem que ser diferente?”, declarou.
Na ocasião, ele também explicou que usa um “nome fantasia” para pedidos de receitas e exames. “Eu sempre falei com o médico: ‘Bote o nome de fantasia, que pode ir pra lá Jair Bolsonaro’, já era manjado, principalmente em 2010 quando eu comecei a aparecer muito, né. Alguém pode fazer alguma coisa esquisita.”