Biólogos e engenheiros da Pensilvânia, nos Estados Unidos, criaram o primeiro biorreator “espacial” capaz de transformar as fezes dos astronautas e cosmonautas em uma mistura nutritiva de proteínas e gorduras.
Em apenas um ano, um astronauta produz cerca de 80 quilos de fezes durante uma missão espacial. Um estudo, publicado em julho na Life Sciences in Space Research, mostra ser possível transformar as fezes de um astronauta em uma “massa comestível”.
De acordo com Christopher House, professor de geociências na Universidade da Pensilvânia na Filadélfia, a equipe testou “o conceito da utilização simultânea de biorresíduos de astronautas e sua transformação em uma biomassa comestível“.
“Embora a ideia pareça estranha para as pessoas, não é diferente da comida feita de extrato de fermento e cerveja”, explica o professor. Depois do alto nível de radiação espacial, o abastecimento de comida aos astronautas que seguem para o espaço é o segundo maior problema e ambos devem ser resolvidos antes das viagens a Marte.
Além disso, segundo o CanalTech, levar comida da Terra para o espaço sideral faz com que haja um aumento de peso, o que, consequentemente, exige uma maior quantidade de combustível.
A equipe tentou unir os dois processos ligados à atividade vital humana para testar se a ideia é viável. Desta forma, os biólogos e engenheiros usaram um material sólido e um material líquido – semelhantes às fezes humanas – criando um sistema cilíndrico fechado com cerca de quatro metros de comprimento e quatro centímetros de diâmetro.
Nesses sistema cilíndrico, colocaram micróbios selecionados que entraram em contato com o material e, por meio da digestão anaeróbica, conseguiram quebrar os resíduos existentes.
“Esta é uma maneira eficiente de obter massas tratadas e recicladas. O que foi inédito no nosso trabalho foi retirar os nutrientes da corrente e, intencionalmente, colocá-los em um reator microbiano para produzir alimentos“, explica House.
Com a experiência, a equipe descobriu que, durante a digestão anaeróbica, foi produzido metano, que pode ser usado para cultivar um outro tipo de micróbio (Methylococcus capsulatus), que é usado vulgarmente como alimento para animais.
Assim, chegaram à conclusão de que é possível produzir um alimento nutritivo, visto que conseguiram produzir uma biomassa com 52% de proteína e 36% de gorduras. De acordo com House, a instalação pode processar mais da metade dos biorresíduos de cinco ou seis astronautas, no decorrer de um dia.
Ciberia // ZAP