Um estudo divulgado recentemente revela que o manto terrestre que está sob o Tibete foi dividido em quatro pedaços gigantes. A pesquisa dá uma visão sem precedentes sobre os processos geológicos que ocorreram há 50 milhões de anos.
Determinar o que está sob o solo nem sempre é fácil, mas pode ser extremamente útil na previsão de terremotos e até para entender a evolução do terreno ao longo do tempo. Até agora, a disposição do manto indiano que passa sob o planalto do Tibete era, em grande parte, um mistério.
A nova pesquisa, conduzida por uma equipe da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, recorreu a uma variedade de leituras sísmicas e outros dados geológicos para identificar as fissuras sob o Tibete – que se localizam na camada superior do manto da placa tectônica indiana.
Nesta placa, foram encontradas quadro rupturas enormes em diferentes ângulos e com diferentes distâncias da fissura original. De acordo com os cientistas, estes fragmentos parecem estar submersos sob a placa Eurasiática.
“A presença dessas fissuras pode dar uma explicação coesa sobre os terremotos profundos que têm ocorrido em algumas partes do sul e centro do Tibete e não em outros locais”, disse o geólogo Xiaodong Song.
Sabemos que a placa tectônica indiana colidiu com a placa tectônica Eurasiática há cerca de 50 milhões de anos, durante o período Cenozoico, que deu origem ao Planalto do Tibete e a uma série de outros processos geológicos. O que ainda não sabemos é com está o arranjo geológico da Terra desde então.
O aparecimento de novas fissuras afeta a quantidade de calor que sai núcleo do planeta e chega até o manto e à crosta. Consequentemente, afeta também a sua maleabilidade – e a probabilidade de um grande terremoto acontecer.
Essencialmente, a identificação dessas placas fissuradas pode ajudar a salvar vidas em caso de um desastre desse tipo.
Tomografia sísmica e modelo 3D
Devido às características topográficas do planalto do Tibete – um vasto e elevado terreno, também conhecido como Teto do Mundo –, é difícil realizar estudos do terreno acima e sob o solo. A superfície do planalto ocupa uma área aproximada de 2,5 milhões de quilômetros quadrados e tem uma elevação média de 4 mil metros.
Para o estudo, os geólogos recorreram à tomografia sísmica, uma forma de mapear o solo em alta resolução através de ondas de energia produzidas por terremotos reais ou geradas por explosões controladas.
Foi produzido um modelo 3D que não só explica o motivo de os planaltos tibetanos sentirem terremotos mais fortes que outros, como também explica como esse número incomum de rupturas foi criado.
“Os lugares anteriormente considerados incomuns para a ocorrência de alguns terremotos intercontinentais no sul do Planalto Tibetano, parecem agora fazer mais sentido, depois de observar esse modelo”, disse um dos pesquisadores, Jiangtao Li. Acrescentando que “há uma correlação impressionante entre a localização dos terremotos e a orientação do manto superior indiano que foi fragmentado”.
Agora, o desafio passa por utilizar os novos dados recolhidos para ajudar a avaliar o risco de terremotos no futuro. Embora seja praticamente impossível prever um terremoto com um grau de precisão real, é importante ter uma ideia aproximada de quando e onde o desastre vai ocorrer para implementar programas de minimização de danos.
O estudo, publicado esta semana na revista PNAS, pode melhorar significativamente as previsões de terremotos futuros na China, Índia, Nepal e Butão.
“No geral, nossa nova pesquisa sugere que precisamos de ter uma visão mais profunda para sermos capazes de entender a evolução e a deformação continental dos Himalaias e do Tibete”, concluiu.
Ciberia // ZAP