Após a H&M na quarta-feira (24), nessa quinta-feira (25) foi a vez de Nike, Adidas e Uniqlo serem alvo de retaliação de Pequim. Em sinal de protesto contra a repressão dos uigures, as marcas pararam de comprar produtos vindo do Xinjiang, região onde vive essa minoria muçulmana, que a comunidade internacional afirma ser alvo de trabalhos forçados impostos pelo governo chinês. As autoridades do país não apreciaram a atitude das grifes de moda e uma campanha de boicote nacional foi lançada.
Desde o ano passado a gigante sueca do fast fashion H&M havia anunciou que iria parar de usar o algodão de Xinjiang.
A decisão surgiu na sequência de um relatório da ONG Australian Strategic Policy Institute, no qual a marca de moda é acusada de ter se abastecido “potencialmente direta ou indiretamente”, entre 2017 e 2019, através de estruturas que recorrem à mão de obra uigur dos “campos da reeducação”. Outras grifes seguiram os passos da H&M, deixando de comprar matéria-prima ou produtos confeccionados em Xinjiang.
Mas essa semana a China decidiu revidar, boicotando os produtos H&M. A campanha de retaliação começou com a Liga da Juventude Comunista, filiada ao Partido Comunista, que lançou o debate no Weibo, o Twitter chinês.
“Espalhar boatos e boicotar o algodão de Xinjiang e ao mesmo tempo esperar continuar ganhando dinheiro na China? Estão sonhando !”, disse a organização, publicando cópias do comunicado da H&M que gerou a polêmica.
Os produtos da H&M saíram das principais páginas de venda de roupas na China, dois atores famosos cortaram relações com a empresa, e a imprensa estatal criticou a marca. Em um comunicado, a H&M China declarou que não adotou “qualquer posição política”, garantindo que segue comprometida com seus negócios de longo prazo no país. A China é o 4° mercado mais importante para do grupo sueco no mundo.
Nessa quinta, foi a vez das gigantes de artigos esportivos Nike e Adidas e da marca de fast fashion japonesa Uniqlo serem alvo de retaliação nas redes sociais. Também circulava no Weibo ameaças de boicote de consumidores visando a espanhola Zara e a americana Gap.
Trabalhos forçados
Questionado se o governo estaria por trás da polêmica, o Ministério chinês das Relações Exteriores negou qualquer envolvimento.
“O mercado chinês é o que é. Não precisamos intimidar as empresas”, disse a porta-voz Hua Chunying a repórteres. “Mas uma coisa é certa: os chineses não permitirão que estrangeiros se aproveitem da China para depois criticá-la”, acrescentou.
Segundo estudos de institutos dos Estados Unidos e da Austrália, pelo menos um milhão de uigures estão nos “campos”, e alguns deles são submetidos a “trabalhos forçados”, principalmente em plantações de algodão.
A China nega categoricamente estas afirmações e diz que se trata de relatórios tendenciosos. Segundo o governo, os “campos” são, na verdade, “centros de formação profissional” destinados a dar emprego à população para mantê-la afastada do extremismo.
A campanha de boicote às marcas de moda coincide com as sanções impostas pela União Europeia e outros países sobre a China, justamente por causa do tratamento dado aos uigures.
// RFI