Votação sobre projeto ferroviário expôs crise entre partidos governistas. Vice-premiê italiano, Matteo Salvini, anuncia racha na coalizão e pede novas eleições. Processo, porém, depende do aval do presidente.
O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, afirmou nesta quinta-feira que a coalizão governista, formada pelo partido Liga, de extrema direita, e o populista Movimento Cinco Estrelas (M5S), rachou e que o único caminho para solucionar o impasse seria realizar novas eleições.
A tensão no governo veio à tona depois de o Senado derrotar na quarta-feira uma moção apresentada pelo M5S que visa acabar com um projeto de trem alta velocidade, financiado pela União Europeia (UE), que ligaria Turim à França. O projeto foi apoiado, porém, pela Liga, de Salvini.
A votação no Senado expôs o conflito entre as legendas, que há meses têm tido uma série de atritos. Segundo a imprensa italiana, antes do embate parlamentar, Salvini já havia imposto várias condições para a Liga permanecer no governo, incluindo a renúncias dos ministros do Transporte, Defesa e Economia.
O anúncio do rompimento veio após uma reunião entre Salvini e o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. O extremista de direita disse que a votação deixou claro o colapso da coalizão. “Devemos agir rapidamente e devolver a escolha para os eleitores”, acrescentou o ministro.
O rompimento lança a terceira economia da zona do Euro num futuro político incerto. Para convocar novas eleições, o presidente italiano, Sergio Mattarella, deve primeiro verificar se o governo realmente perdeu apoio no Parlamento. Ainda não se sabe quando isso ocorrerá, pois o Legislativo está em recesso das férias de verão.
Segundo Salvini, o Parlamento poderia se reunir já na próxima semana para votar uma moção de desconfiança no governo e pedir a renúncia do atual premiê.
O Movimento Cinco Estrelas tem mais assentos no Parlamento do que a Liga. Desde a última eleição em março do ano passado, o partido de Salvini, porém, conseguiu dobrar o número de eleitores, de acordo com recentes pesquisas de opinião.
Em comunicado, o líder do M5S e ministro do Desenvolvimento Econômico, Luigi Di Maio, afirmou que seu partido não teme novas eleições. Ele disse que o pleito, no entanto, não deve acontecer antes de o Parlamento dar a aprovação final para uma reforma que reduz o número de legisladores, cuja votação está marcada para setembro.
Mattarella é o único que pode dissolver o Parlamento e convocar novas eleições. A proposta orçamentária para 2020 pode ser um impasse neste processo. O governo tem até outubro para apresentar o orçamento do país aos legisladores. Desde o pós-guerra, a Itália não realiza eleições no outono.