Em mais um caso que nos lembra que muitas vezes a realidade supera a ficção, surgem agora informações de que as interferências de hackers russos nas eleições norte-americanas vão muito além do que se poderia imaginar… e teriam mesmo sido testemunhadas por um grupo de hackers holandeses.
Em novembro de 2014, os hackers russos Cozy Bear se preparavam para lançar um ataque ao Departamento de Estado norte-americano, e estavam longe de imaginar que suas atividades estavam sendo observadas por hackers holandeses.
Enquanto nos EUA o assunto das interferências russas nas últimas eleições é ainda tratado como um misto de teoria da conspiração e fake news, surge agora a notícia de que hackers dos serviços de inteligência holandeses conseguiram se infiltrar na rede dos Cozy Bear, e espionar todas as suas atividades.
A escala das operações entra na categoria de “isto dava um filme”. Segundo uma investigação do jornal holandês de Volkskrant e do programa televisivo Nieuwsuur, do canal estatal NOS, os hackers holandeses chegaram ao ponto de ganhar acesso a circuitos de câmeras de vigilância que permitiram identificar visualmente cada um dos hackers russos que estava sendo monitorados digitalmente.
A infiltração dos hackers da agência de inteligência holandesa, diz o jornal, teria permitido acompanhar detalhadamente as atividades dos hackers russos – entre as quais, todo o planejamento e interferência nas eleições presidenciais norte-americanas, que culminaram com a derrota de Hillary Clinton e eleição de Donald Trump.
Segundo o jornal holandês, os Cozy Bear, grupo especializado em atacar governos e empresas em todo o mundo, teriam conseguido se infiltrar na Casa Branca a partir do ataque de novembro de 2014 ao Departamento de Estado norte-americano.
Após este ataque, os hackers conseguiram enviar a um funcionário da Casa Branca um e-mail dos servidores do Departamento de Estado, com um link para uma página comprometida. Confiando na origem do e-mail, o funcionário seguiu o link, em cujo destino entregou aos hackers as credenciais de acesso a serviços da Casa Branca.
As informações, que foram passadas às autoridades norte-americanas, permitiram que alguns ataques iminentes dos hackers russos fossem contrariados ou evitados – restando agora saber até que ponto este tipo de interferência externa teria ou não tido influência determinante na chegada à Casa Branca de um presidente que trata estas ocorrências como fake news.
Quem não teria ficado muito contente com o desfecho da sua proeza, conta o de Volkskrant, são os hackers holandeses, que se sentem traídos – não só porque a valiosa informação que recolheram não foi utilizada de melhor maneira, mas principalmente por terem sido expostos pelos “aliados” norte-americanos, e colocado os russos em sobre-aviso.
As informações cedidas pelos holandeses aos serviços de inteligência norte-americanos são uma das razões pelas quais o FBI iniciou uma investigação às suspeitas de interferência russa nos resultados das eleições presidenciais de 2016.
Donald Trump, entretanto, sustenta ainda que a interferência russa na sua eleição é fake news, e responde a isso até dando ordens para a demissão de Robert Mueller, chefe da equipe nomeada para investigar a suposta interferência do amigo Vladimir Putin.
Ciberia // ZAP