O movimento palestino Hamas alterou, esta segunda-feira, pela primeira vez na sua história, o programa político, aceitando um Estado palestino limitado às fronteiras de 1967 e insistindo no caráter político – e não religioso – do conflito com Israel.
No documento divulgado em árabe e inglês, que anexou à sua carta redigida em 1988, o Hamas declara que “a criação de um Estado palestino inteiramente soberano e independente nas fronteiras de 4 de junho de 1967, com Jerusalém como capital, (…) é uma fórmula de consenso nacional“.
O documento com 42 pontos foi publicado no site do Hamas no exato momento em que começava em Doha, no Qatar, uma conferência de imprensa do líder do movimento islâmico palestino no exílio, Khaled Mechaal.
A conferência, transmitida ao vivo para a Faixa de Gaza, controlada exclusivamente pelo Hamas há dez anos, contou também com a presença de uma série de dirigentes do movimento, que deverão igualmente tomar a palavra ao longo da sessão.
O Hamas foi classificado como um “grupo terrorista” pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel e muitos dos seus dirigentes são alvo de sanções. Ao alterar pela primeira vez em quase 30 anos os seus textos fundadores – por alguns países considerados antissemitas, a começar por Israel -, o movimento tenta reentrar no jogo das negociações internacionais, segundo os especialistas.
A principal alteração é o reconhecimento do Estado da Palestina nas fronteiras de 1967 – anteriores à ocupação israelense da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de Jerusalém Oriental –, explicou recentemente à agência de notícias francesa AFP um alto responsável do Hamas, sob anonimato, frisando que isso não equivale “em caso algum a um reconhecimento” de Israel.
Os outros pontos mais importantes são a distinção entre os judeus “como uma comunidade religiosa, por um lado, e a ocupação e o projeto sionista, por outro” e, também, a atitude de distanciamento do Hamas em relação à Irmandade Muçulmana egípcia.
Um responsável do Hamas disse à AFP, ainda de forma anônima, que o documento divulgado será apresentado “em várias capitais estrangeiras”, muitas das quais atualmente se recusam a dialogar com o movimento palestino. O anúncio ocorre a 48 horas do primeiro encontro entre o presidente norte-americano, Donald Trump, com o seu homólogo palestino, Mahmud Abbas, que está de costas voltadas ao Hamas.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já classificou o novo documento do Hamas como “mentiroso”. O Cogat, organização do Ministério da Defesa israelense encarregado dos territórios ocupados, afirmou que “o movimento terrorista Hamas está zombando do mundo ao tentar se apresentar com este suposto documento como uma organização esclarecida e evoluída”.
// ZAP