As mudanças climáticas podem forçar a migração de 120 milhões de pessoas em idade ativa e suas famílias, num total de 200 milhões, ao longo do século 21, mas menos de 20% serão migrações internacionais.
A conclusão é de um estudo dos pesquisadores Frederic Docquier, Michael Burzynskia, Christoph Deusterce e Jim de Melo, que foi apresentado nesta quinta-feira (13) em um seminário promovido pelo Centro NOVAFRICA, da Nova SBE (Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa), em Carcavelos.
O estudo analisa os efeitos de longo prazo das mudanças climáticas sobre as migrações laborais, sendo incluídos nos diferentes países (145 em desenvolvimento, mais 34 do grupo da OCDE) fatores como o efeito do aumento das temperaturas e da subida do nível do mar, o crescimento demográfico e populacional, decisões educativas, desigualdade salarial, pobreza extrema e decisões de mobilidade.
Os modelos matemáticos criados pelos pesquisadores revelam que as mudanças climáticas têm efeitos limitados nas taxas de emigração e imigração internacionais, mesmo nos cenários mais extremos, demonstrando que a migração internacional é uma estratégia de adaptação trabalhosa, e por isso mesmo, de último recurso.
Em um cenário climático moderado (considerando um aumento de dois graus centígrados e subida de um metro no nível do mar), os cientistas preveem migrações forçadas e voluntárias de cerca de 200 milhões de pessoas, dos quais só 19% irão optar por uma migração de longa distância, para um dos países desenvolvidos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
“Estas condições são favoráveis ao aumento da mobilidade internacional dos trabalhadores”, escrevem os autores, acrescentando que com as atuais leis e políticas migratórias, os migrantes climáticos tenderão a migrar mais no interior dos próprios países do que atravessando fronteiras.
As mudanças climáticas deverão também aumentar a diferença de rendimentos entre os países mais pobres e os mais ricos em 25%, influenciar a pobreza extrema e forçar milhões de adultos a fugir das áreas onde vivem inundadas.
Outros fatores como perdas diretas de serviços públicos ou conflitos sobre recursos vão também determinar o maior ou menor fluxo de migrações internas ou internacionais, embora estes mecanismos sejam mais difíceis de quantificar, salientam.
Os imigrantes são, sobretudo, originários de países que menos contribuíram para as mudanças climáticas, mas são os que mais vão sofrer seus efeitos, incluindo países africanos como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique.
O estudo realça que as mudanças climáticas exigem “mais coerência entre políticas de migração, desenvolvimento e ambientais”. E ainda acrescenta que “são necessárias medidas preventivas para encorajar a adaptação às mudanças climáticas, redução do risco de desastres em nível local, desenvolvimento sustentável em geral e desenvolvimento urbano sustentável em particular”, sobretudo nos países mais pobres, onde as pessoas têm também menos mobilidade devido às dificuldades financeiras.
Ciberia, Lusa // ZAP