Diferentemente das políticas de confinamento cada vez mais restritivas impostas na Itália, na Espanha ou na França, o governo britânico sugeriu que os britânicos poderiam adquirir uma imunidade coletiva a partir do contágio da população. A estratégia chocou a comunidade científica.
Sem entrar em detalhes de seu plano para reduzir os riscos da epidemia, o premiê britânico Boris Johnson vem sugerindo apenas algumas ações específicas para incentivar um senso de responsabilidade entre os cidadãos do Reino Unido, particularmente os que ele considera mais vulneráveis: aqueles com mais de 70 anos ou com problemas de saúde crônicos.
O Executivo sugere evitar ir a bares, restaurantes ou ao teatro. Além disso, propõe isolamento por uma semana se os sintomas do coronavírus aparecerem. Contaminados com famílias deveriam estender esse isolamento para duas semanas, sob a premissa de que mais de um membro contrairá o vírus.
Johnson alertou que “muitas pessoas vão perder entes queridos, e que seu governo está procurando atrasar o pico [da pandemia] ou achatá-lo para evitar o colapso do sistema público de saúde”.
Tornar cidadãos mais resistentes ao vírus
Para membros da comunidade científica, com essa afirmação o Executivo britânico admite que estaria buscando um tipo de imunidade de grupo, também chamada de “imunidade do rebanho”.
Nesta teoria, entre 60% e 80% da população contrai o vírus e apresenta distúrbios menores, o que desenvolveria uma certa imunidade coletiva, tornando os cidadãos mais resistentes ao vírus e reduzindo o número de infecções.
Diante das críticas, Johnson acabou corrigindo sua estratégia. Principalmente após a publicação de um estudo que mostrou que as medidas previstas por Londres só permitiriam reduzir as mortes pela metade.
De acordo com uma pesquisa do Imperial College de Londres, publicada após a entrevista coletiva de Johnson na segunda-feira à noite, a resposta moderada adotada até então pelo governo britânico teria reduzido o número de vítimas fatais de 500.000 – na ausência total de medidas – para 260.000 no país.
Numa mudança de postura, o primeiro-ministro conservador pediu na segunda-feira à população que evite qualquer “contato não essencial”, “viagens desnecessárias” e passe a trabalhar em casa. No entanto, o governo não fala de confinamento total ou parcial, como na Itália, na Espanha e desde esta terça-feira na França.
// RFI