Cientistas criam “imunobiótico” que persegue e destrói superbactérias

NIH / Flickr

Uma colônia de milhões de bactérias Pseudomonas aeruginosa

Uma nova droga contra as superbactérias. Cientistas criaram uma droga que persegue e elimina as bactérias mortais resistentes aos antibióticos.

Pesquisadores da Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, EUA, fundiram parte de um antibiótico existente com uma molécula que atrai anticorpos liberados pelo sistema imunológico para combater invasores.

O “imunobiotic” tem como alvo uma variedade de bactérias responsáveis por doenças como pneumonia e intoxicação alimentar, incluindo aquelas que muitas vezes se tornam resistentes a antibióticos de última geração.

“A inspiração veio principalmente do recente sucesso da imunoterapia contra o câncer”, disse Marcos Pires, que liderou o estudo. A imunoterapia contra o câncer, que Pires descreveu como “revolucionária” para os pacientes, também aproveita o poder do sistema imunológico, mas destrói as células cancerosas em vez das bactérias.

A equipe queria descobrir se o sistema imunológico poderia ser usado para ajudar os antibióticos a trabalhar de forma mais eficiente. “Nós antecipamos que a resistência seria mais lenta se desenvolver por causa do duplo modo de atividade – tanto a atividade antimicrobiana tradicional quanto a imunoterapia. Deve fornecer menos mecanismos para escapar das ações de nossos agentes”, disse Pires.

Ele e sua equipe testaram o novo composto em uma série de bactérias declaradas pela Organização Mundial da Saúde como de alta prioridade, porque há tão poucas drogas que funcionam contra elas.

Entre eles estavam bactérias Pseudomonas aeruginosa, uma causa comum de pneumonia em pacientes com câncer, vítimas de queimaduras e pessoas com fibrose cística. Testes em vermes nematóides infectados com Pseudomonas mostraram que a droga as atingiu com sucesso e eliminou as bactérias.

Ao aderir às bactérias, a droga inflige danos diretos enquanto age como um farol para os anticorpos que chegam em massa para terminar o trabalho. No corpo, as bactérias que ficam cobertas de anticorpos são destruídas pelos glóbulos brancos.

Os pesquisadores basearam seu composto em um antibiótico de último recurso existente chamado polimixina, que danifica a superfície externa das células bacterianas, fazendo-as explodir e morrer.

Evidências crescentes sugerem que esta última linha de defesa antibiótica está sob ameaça, o que significa que há uma necessidade urgente de novos antibacterianos. A nova droga imunobiológica se liga a moléculas na superfície de bactérias que não são encontradas em células humanas.

Embora a droga ainda não tenha sido testada em humanos, os pesquisadores não observaram sinais de toxicidade quando foram testados em células animais.

“Acreditamos que a diferença expansiva na composição celular entre células bacterianas e células saudáveis fornecerá a janela de seletividade necessária para atingir as células bacterianas sem afetar as células humanas saudáveis”, disse Marcos Pires.

Após o teste da nova droga em combinação com um antibiótico existente ao qual as bactérias já eram resistentes, os pesquisadores descobriram que as bactérias conseguiram re-sensibilizar a droga para o outro antibiótico.

Este resultado sugere que os antibióticos mais antigos, que se pensava estarem obsoletos à resistência generalizada nas bactérias, ainda poderiam ser úteis em combinação com este novo medicamento.

Tim McHugh, professor e diretor do Centro de Microbiologia Clínica da UCL, disse que “a ideia de usar uma molécula que atinja a membrana externa de bactérias para melhorar sua capacidade de resposta a drogas ou anticorpos é muito atraente”.

McHugh explicou que “as bactérias são menos propensas a se tornarem resistentes a drogas que atacam o sistema imunológico em comparação com drogas que atacam as bactérias mais diretamente”.

As bactérias podem sofrer mutações e mudar sua interação com um antibiótico, mas não podem mudar diretamente o sistema imunológico. Pires explica ainda que o papel dos imunobióticos é “recrutar anticorpos que os seres humanos já têm, então a vantagem é que você não tem que vacinar o paciente”.

A pesquisa é um passo importante na luta contra a resistência aos antibióticos, mas ainda não há previsão para testes em humanos.

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