Resultado oficial confirma que nenhum partido conseguiu obter maioria e indica cenário complicado para a formação de coalizões estáveis. Proposta de governo de unidade nacional levanta dúvidas sobre futuro de Netanyahu.
Um dia após as eleições parlamentares de Israel, os resultados oficiais confirmam a tendência registrada nas pesquisas de boca de urna: o pleito não teve um vencedor claro, a formação do próximo Parlamento deve ser fragmentada, e os líderes dos principais partidos devem enfrentar dificuldades para formar coalizões de governo viáveis.
O cenário não é muito diferente do vivenciado após as últimas eleições, que ocorreram em abril. Na ocasião, os principais partidos também não encontraram um caminho viável para governar, provocando a convocação de mais uma eleição em menos de um ano.
Com 95% das urnas já apuradas nesta quarta-feira, os resultados apontam que o partido centrista Azul e Branco, liderado pelo ex-militar Benny Gantz, deve conquistar a maior fatia das cadeiras do Parlamento: 33 de um total de 120. Logo na sequência aparece o Likud, do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que deve conquistar 32 assentos.
Só que os dois líderes partidários rivais também ficaram distantes de formar alguma maioria apenas com as cadeiras conquistadas pelos seus partidos. Um governo israelense que deseje ter estabilidade normalmente precisa contar com pelo menos 61 cadeiras no Parlamento.
Normalmente, para atingir esse número, os líderes partidários formam coalizões com legendas menores. Mas mesmo nesse caso o cenário parece complicado. O Likud de Netanyahu já arregimentou um bloco de partidos religiosos e de direita, mas essa coalizão só deve contar com 56 cadeiras no Parlamento.
O premiê até mesmo cancelou sua participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, que ocorre na próxima semana, para negociar uma solução para a formação de um governo.
Diante desse cenário difícil, a imprensa israelense já questiona se Netanyahu, que nas últimas décadas se destacou sempre pela capacidade de sobrevivência política, chegou ao fim da linha.
Mas o cenário para o Azul e Branco, de Gantz, por sua vez, também não tem um caminho claro. O ex-militar tem a opção de tentar formar um bloco de centro-esquerda, incluindo a chamada Lista Unida, que reúne partidos da minoria árabe de Israel. Mas mesmo essa coalizão só conseguiria reunir 56 cadeiras, ainda incapaz de sustentar um governo de maioria.
No meio de tudo isso está o nacionalista secular Avigdor Lieberman, um imigrante russo que chefia a legenda Israel é Nosso Lar. Com dez cadeiras conquistadas no Parlamento, Lieberman tem a capacidade de fazer com que as coalizões de Netanhayu e Gantz superem a marca dos 61 assentos no Parlamento.
Mas Lieberman já avisou que não irá aderir a um governo Netanyahu que inclua pequenos partidos religiosos. Sua preferência é por um governo de unidade nacional liberal, sem a interferência de religiosos e que inclua tanto o Likud quanto o Azul e Branco, podendo acumular cerca de 70 assentos.
Mas essa opção deve ser difícil de ser aceita por Gantz, que repetiu várias vezes durante a campanha que não se juntaria a um governo com Netanyahu. E o plano de Lieberman não prevê quem encabeçaria o governo como premiê ou se Netanyahu e Gantz dividiriam o mandato de quatro anos.
Após os resultados, Gantz ainda disse que apenas consideraria se unir ao Likud se o partido rival se livrasse de Netanyahu e indicasse outra liderança. “Vamos agir para formar um governo de unidade ampla que expresse a vontade do povo“, disse Gantz a apoiadores em um comício pós-eleitoral em Tel Aviv.
No entanto, esse parece um caminho difícil para o Likud. Netanyahu chefia a legenda desde 2005, e sua liderança no período coincidiu com seus dez anos consecutivos como primeiro-ministro. Vários caciques do partido reagiram mal às condições de Gantz. “Nunca aceitaremos pessoas que querem ditar quem é nosso líder”, disse Nir Barkat, ex-prefeito de Jerusalém e filiado ao Likud.
Para Netanyahu, o mais longevo premiê da história de Israel, o impasse não representa apenas dúvidas sobre seu futuro político, mas também sobre sua situação legal. No momento, o chefe de governo enfrenta uma série de acusações de corrupção, que podem tramitar com mais celeridade caso ele deixe o poder e perca sua imunidade.