Para aprender mais sobre como os objetos do Sistema Solar se formaram, pesquisadores elaboraram em 2019 uma missão chamada Trident, com o objetivo de explorar Tritão, a maior lua de Netuno. E a Trident está concorrendo à próxima rodada do programa Discovery, da NASA, que financia missões robóticas de custo relativamente baixo.
Com uma mistura de gelo incomum em sua superfície, Tritão “sempre foi um dos corpos mais empolgantes e intrigantes do Sistema Solar”, de acordo com Louise Prockter, líder da equipe que propõe a missão. “Eu sempre amei as imagens da Voyager 2 e seus vislumbres tentadores dessa lua bizarra e louca que ninguém entende”, declara. Desde que passou por Netuno, a sonda Voyager 2 deixou muitas perguntas sem resposta sobre o planeta e suas luas.
Para essa missão, a equipe da Trident planeja estudar toda a superfície da lua. O primeiro objetivo será estudar as estranhas plumas geladas que existem por lá e levam os cientistas a cogitarem haver água no interior de Tritão sendo forçada a expelir pela crosta espessa e congelada da lua. Se a Trident descobrir um oceano subterrâneo como fonte dessas plumas, os cientistas saberão mais sobre onde a água pode ser encontrada além da Terra.
Até o momento, os cientistas viram apenas 40% da superfície de Tritão. Usando uma câmera de imagem full-frame – termo que indica um tamanho de 35 mm do sensor que captura as imagens – a Trident pretende mapear o restante, aproveitando a luz refletida do Sol enquanto ilumina Netuno.
Por fim, a missão visa estudar a geologia da superfície. Tritão quase não tem crateras visíveis, e isso sugere que sua superfície seja relativamente jovem, reconstruída várias vezes com material fresco. “Tritão não é apenas uma chave para a ciência do Sistema Solar – é um chaveiro: um objeto capturado do Cinturão de Kuiper que evoluiu, um mundo oceânico em potencial com plumas ativas, uma ionosfera energética e uma jovem superfície única”, disse Karl Mitchell, cientista da missão.
O entusiasmo com a missão não é exagero, pois Tritão tem muitas características incomuns e interessantes. Por exemplo, ele é a única lua no Sistema Solar que orbita na direção oposta à rotação de seu planeta, e sua órbita tem uma inclinação extrema, deslocada em 23 graus do equador de Netuno. Além disso, a lua tem uma atmosfera incomum e um clima dinâmico.
A ionosfera da lua também chama atenção, porque ela é preenchida com partículas carregadas e é 10 vezes mais ativa do que a de qualquer outra lua no Sistema Solar. Geralmente, as ionosferas são carregadas pela energia do Sol, mas considerando que Tritão e Netuno estão 30 vezes mais afastados do Sol do que a Terra, deve haver outra fonte de energia atuando por lá.
Se for um dos projetos selecionados – a NASA escolherá até duas missões entre as quatro candidatas – a Trident poderá ser lançado em outubro de 2025, que é quando a Terra estará alinhada com Júpiter. Isso permitirá à sonda usar a força gravitacional do gigante gasoso como estilingue para economizar combustível em sua viagem até Netuno. Então, a nave chegaria a Tritão em 2038.
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