Com a descoberta, os pesquisadores podem ser capazes de acessar as primeiras histórias de outros mamíferos e espécies extintas e entender melhor processos evolutivos e de cruzamento de espécies.
Equipe de cientistas descobriu que dentes de mamute preservados no permafrost (solo continuamente congelado adequado para a conservação de material genético), da Sibéria, de até 1,6 milhão de anos, retêm o DNA mais antigo já encontrado. Foram recuperadas as sequências do DNA dos restos mortais de três animais preservados na camada de gelo.
Os restos mortais dos animais foram descobertos na década de 70, quando os cientistas ainda não tinham métodos científicos para extrair o DNA. Agora os pesquisadores podem acessar as primeiras histórias de outros mamíferos e de espécies extintas. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature.
“Estou esperando há oito anos este estudo”, confessa Ludovic Orlando, especialista em DNA do Centro de Antropobiologia e Genômica de Toulouse, na França, que codirigiu em 2013 um estudo que sequenciou o DNA mais antigo até então: o genoma de um osso de uma perna de cavalo de 560 mil a 780 mil anos. “Estou feliz por perder este recorde”, brincou.
Os pesquisadores acreditavam na possibilidade de DNA sobreviver a mais de um milhão de anos, e agora puderam comprovar. Love Dalen, geneticista evolutivo do Museu Sueco de História Natural, que investiga DNA de mamutes desde 2007, analisou com sua equipe uma amostra de mamute-lanoso primitivo (Mammuthus primigenius) e duas amostras de mamutes-da-estepe (Mammuthus trogontherii), escavados pelo paleontólogo russo Andrei Sher.
Dalen esperava que o DNA nas amostras pudesse revelar a evolução dos mamutes e outras espécies em ação na época, mas, após experiências frustradas anteriores, o geneticista estava um pouco cético. Graças aos avanços na tecnologia de sequenciamento e bioinformática, sua equipe conseguiu decifrar milhões de pares de bases de DNA das três amostras.
A equipe de Dalen descobriu que o mamute da espécie encontrada na cidade de Krestovka pertencia a uma linhagem inteiramente nova. “Não podemos dizer que é uma espécie diferente, mas com certeza é semelhante”, explicou o cientista. Embora a amostra de Krestovka venha da Rússia, Dalen suspeita que essa linhagem foi isolada de outros mamutes-da-estepe que habitavam a América do Norte.
A equipe descobriu que os mamutes colombianos remontam metade de seus ancestrais à linhagem do mamute de Krestovka, e a outra metade aos mamutes-lanosos. As duas linhagens se misturaram há mais de 420 mil anos. A ideia de que novas espécies podem ser formadas por meio da mistura ganhou força entre biólogos evolucionistas. Mas este é o primeiro teste de especiação de híbrido de DNA antigo, diz Ludovic Orlando.
As diferentes espécies de mamutes provavelmente se misturaram na época da expansão glacial, diz Hendrik Poinar, um especialista em DNA da Universidade McMaster de Hamilton, Canadá. Sua equipe revelou evidências de que mamutes-lanudos e mamutes colombianos cruzaram posteriormente.
Tom van der Valk, bioinformático da Universidade de Uppsala, na Suécia, que liderou o trabalho sobre dentes de mamute com os biólogos evolucionistas Patricia Pecnerova e David Díez del Molino do Museu Sueco de História Natural, espera que este estudo incentive outros cientistas a seguirem esta linha de pesquisa.
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