A matéria escura, o material que (supostamente) compõe cerca de um quarto do Universo, pode ter uma pequena carga elétrica.
Até o momento, sabemos que existe matéria escura apenas por causa da gravidade, já que esse tipo de matéria é responsável por puxar estrelas e galáxias.
No entanto, os astrofísicos Julian Muñoz e Abraham Loeb, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, defendem que uma pequena fração de partículas de matéria escura pode ter uma pequena carga elétrica. Isso significa que a matéria escura poderia ser capaz de interagir com a matéria normal através da força eletromagnética.
Caso a teoria seja confirmada, não é apenas um grande avanço no entendimento da matéria escura, como também uma explicação para um mistério mais recente que tem confundido os cientistas.
Em fevereiro, os astrônomos detectaram, pela primeira vez, um indescritível sinal de gás hidrogênio no alvorecer do Universo, período cerca de 180 milhões de anos após o Big Bang, quando as primeiras estrelas começaram a brilhar.
Atualmente, o hidrogênio que flutua entre as estrelas está muito frio, mais frio do que o fundo de micro-ondas cósmico, a radiação remanescente do Big Bang que banha o Universo. Por ser tão frio, o hidrogênio absorve radiação com um comprimento de onda de 21 centímetros.
Ao medir a absorção da radiação pelo hidrogênio, os astrônomos conseguem entender melhor a aurora cósmica, uma era relativamente desconhecida da história do Universo. Através de uma antena de rádio – a Experiment to Detect the Global Epoch of Reionization Signature (EDGES) – uma equipe de astrônomos conseguiu detectar a absorção pela primeira vez.
Além desta “descoberta incrível”, nas palavras de Muñoz, os astrônomos descobriram também que foram absorvidos pelo hidrogênio o dobro dos fótons. Para o gás absorver tanta radiação, teria que ser ainda mais frio do que os cientistas pensavam.
Os cientistas propuseram que a matéria escura poderia ser a culpada pelo misterioso esfriamento. No artigo científico, publicado em maio na Nature, os cientistas explicam que se menos de 1% de matéria escura tivesse cerca de um milionésimo da carga elétrica de um elétron, essa mesma matéria poderia explicar o calor do hidrogênio.
“Neste caso, gelo é matéria escura“, disse Julian Muñoz.
Mas essa não é a única explicação. Em outro estudo, publicado em março, também na Nature, Rennan Barkana, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, propôs que uma forma mais geral de matéria escura, que não tem necessariamente uma carga, poderia esfriar a matéria normal e explicar, assim, os dados da EDGES.
Ambas as propostas fazem previsões semelhantes, disse Barkana. “Esse é o momento para adotar uma espécie de otimismo cauteloso e manter a mente aberta, tanto no que diz respeito à observação, como também à interpretação”.
Ciberia // ZAP