Os defensores de alimentos orgânicos citam frequentemente notícias ou estudos isolados que respaldam sua visão de que as culturas geneticamente modificadas não são boas, isso porque não aumentam os rendimentos dos agricultores e não são seguras para a saúde.
Porém, uma equipe de cientistas italiana, através de uma meta-análise rigorosa que vasculhou os dados de mais de 6 mil estudos produzidos em 21 anos, descobriu que o milho transgênico possui diversas vantagens sobre as variedades convencionais e é seguro.
O milho transgênico aumentou os rendimentos de agricultores em até 25% (variando de 5,6 a 24,5% nos países com culturas) e diminuiu drasticamente os contaminantes perigosos do alimento.
A análise incluiu dados desde 1996, quando o primeiro milho transgênico foi plantado, até 2016 nos Estados Unidos, Europa, América do Sul, Ásia, África e Austrália. As descobertas foram publicadas em fevereiro na revista científica Scientific Reports.
O estudo também reafirmou o consenso científico de que o milho geneticamente modificado não representa riscos para a saúde humana. Pelo contrário, pode até ter benefícios.
Por exemplo, as culturas de milho transgênico apresentaram porcentagens mais baixas de micotoxinas (-28,8%), fumonisinas (-30,6%) e tricotecenos (-36,5%) relativamente ao milho convencional.
As micotoxinas são tóxicas e cancerígenas. O milho transgênico provavelmente apresenta menor teor porque as variedades geneticamente modificadas diminuem o dano feito por insetos em 59,6%. Esse dano enfraquece o “sistema imunológico” da planta, deixando-a mais suscetível ao desenvolvimento de fungos.
As micotoxinas são uma ameaça persistente para a saúde humana e animal. Embora o milho comercial seja analisado para contaminação, os sistemas de segurança alimentar geralmente não são tão rigorosos, resultando na exposição significativa aos efeitos tóxicos e cancerígenos. Vários estudos têm demonstrado que a contaminação por micotoxinas está associada ao aumento da taxa de câncer de fígado, por exemplo.
A meta-análise italiana também marca o que poderia ser um capítulo final em outra faceta do debate sobre o uso de transgênicos na agricultura.
O argumento de que as culturas transgênicas não resultam em aumentos de rendimento recebeu atenção proeminente depois de ter sido publicada uma grande reportagem sobre o assunto que fez capa no New York Times.
O artigo citava um relatório das Academias Nacionais de Ciências dos EUA e afirmava que “existiam poucas provas” de que a introdução de culturas geneticamente modificadas nos Estados Unidos produzisse lucros além dos observados em culturas convencionais.
No entanto, as informações tinham sido tiradas do contexto. O relatório americano apenas afirmava o óbvio: nenhuma cultura transgênica foi projetada especificamente para aumentar os rendimentos, mas sim para combater as perdas de ervas daninhas e insetos, o que, aliás, teve um impacto positivo óbvio na rentabilidade das culturas.
A notícia do New York Times também deixou de fora a informação de que o rendimento e os ganhos de lucro foram maiores nos países em desenvolvimento.
Uma revisão feita em 2015 pela PG Economics descobriu que as culturas transgênicas proporcionaram benefícios econômicos de 133,4 bilhões de dólares entre 1996 a 2013, com cerca de metade dos ganhos pertencendo a agricultores de países em desenvolvimento.
De acordo com o estudo italiano, mais de 53 milhões de hectares de milho geneticamente modificado foram cultivados em 2015, representando quase um terço da área global de milho plantado. Os Estados Unidos lideram a produção em 33 milhões de hectares, com o Brasil, a Argentina e o Canadá a seguir.
Enquanto o aumento de rendimentos foram mais modestos em países desenvolvidos onde as condições de crescimento são piores, o aumento do cultivo de milho transgênico nos países em desenvolvimento pode proporcionar aos agricultores e consumidores benefícios substanciais para a saúde e economia, conclui a meta-análise italiana.
Ciberia // ZAP