Um óleo vegetal que previne doenças cardiovasculares, e neurodegenerativas, é bom para o cabelo, para a higiene e ainda ajuda a emagrecer. Se você pensou em óleo de coco, acertou, mas também errou, já que nenhum desses benefícios é real. Sociedades médicas brasileiras têm tentado desmistificar o falso milagre do momento: as funções terapêuticas do óleo de coco.
Na semana passada, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) se posicionou contra a prescrição do óleo como terapia para emagrecer. Antes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) já haviam divulgado, em conjunto, um posicionamento contrário à utilização do óleo de coco para a perda de peso.
As duas sociedades afirmavam que não havia qualquer evidência científica ou mecanismos fisiológicos para a associação entre o tão falado óleo e o emagrecimento.
OK, não afeta o peso, mas evita um monte de doenças e faz bem para a saúde, certo? Mais uma vez, não.
O posicionamento da Abran também fala sobre as outras propriedades supostamente milagrosas do óleo. De forma geral, o óleo de coco não possui ação antibacteriana -e tem muita gente que usa o óleo para higiene. Os estudos foram realizados in vitro e não são conclusivos. Portanto, o produto não deve ser indicado para este fim.
Da mesma forma, não há estudos que abordem o efeito do óleo na função cerebral ou evidência de uma ação protetora contra doenças neurodegenerativas.
“Hoje não há suporte científico para dizer que ele traz qualquer benefício. As pessoas gostam do milagre”, afirma Ana Lúcia dos Anjos Ferreira, pesquisadora da faculdade de medicina da Unesp de Botucatu e médica nutróloga da Abran.
“De forma muito prática, é possível dizer que ele serve para nada. Hoje, com o aumento da obesidade, qualquer coisa que supostamente ajude a perder peso vende muito”, diz Fábio Trujilho, presidente da Sbem.
E a um preço alto: um pote de 200 ml custa cerca de R$ 20.
Faz mal?
O problema é que quando se faz uma orientação baseada em modismo não se sabe dos possíveis riscos à saúde dos pacientes. E há quem indique o óleo de coco como se fosse um medicamento, para ser tomado de colherada.
A presidente da Abeso se refere à questão das gorduras saturadas, nas quais o óleo de coco é rico e que, na literatura médica, são tradicionalmente associadas a uma maior chance de eventos cardiovasculares.
Estudos feitos até o momento apontam para um aumento de colesterol (tanto o ‘ruim’, o LDL, quanto o ‘bom’, o HDL) associado ao consumo de óleo de coco.
Algumas pesquisas têm questionado a relação direta da gordura saturada com eventos cardiovasculares. Contudo, os especialistas dizem acreditar que o melhor é não incentivar o uso do óleo de coco por cautela e segurança.
Trujilho diz que ainda não é possível bater o martelo e dizer se o óleo de coco pode fazer mal ou não, mas não há dúvidas de que ele não tem propriedades terapêuticas.
Clarissa Fujiwara, pesquisadora do Hospital das Clínicas da faculdade de medicina da USP e membro da Abeso, afirma que o óleo de coco não deve substituir, por completo, outros óleos e gorduras e que não é adequado estimular o uso para indivíduos que precisam controlar os níveis de colesterol.
Ela lembra ainda que as quantidades e tipos de óleos devem ser ajustados às necessidades individuais.
Para quem está na dúvida de qual óleo usar, a pesquisadora tem uma dica: um dos tipos de óleo em que há consenso em relação à saúde é o azeite de oliva, alvo de muitas pesquisas e associado à dieta mediterrânea.
Também vale o famoso “use com moderação”, válido para quase qualquer item do cardápio, especialmente quando o conhecimento sobre ele ainda é incipiente. “As verdades científicas são transitórias. Esse posicionamento da Abran pode ser mudado. Mas, por ora, é isso o que se sabe sobre o óleo de coco”, diz Ana Lúcia.
Os especialistas são unânimes em um ponto: fuja de modismos e soluções mágicas.