Morreu nesta sexta-feira (26), aos 68 anos, João W. Nery, primeiro homem transexual a passar por cirurgia de redesignação no Brasil, em 1977. A informação foi confirmada por meio de comunicado do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades.
“É com muita tristeza que informamos o falecimento do nosso querido João W. Nery. Como era de conhecimento de todos, ele vinha lutando contra o câncer, mas veio a falecer. Mesmo que estejamos tristes, pois sabemos do tamanho do amor que temos por João, sabemos agora que o sofrimento dele se findou”, diz o comunicado divulgado no Facebook.
“A nós, fica o compromisso e a responsabilidade de não deixarmos que as lembranças se percam e que mantenhamos João vivo em nós e nas nossas histórias“, acrescenta o texto.
Escritor e psicólogo, Nery lutava contra um câncer no pulmão, que chegou ao cérebro. A primeira sessão de radioterapia cerebral ocorreu no mês passado.
Nery concedeu entrevista à Agência Brasil em setembro deste ano quando contou sobre o novo livro que estava preparando: Velhice Transviada, uma biografia atualizada do ativista, suas reflexões sobre a transexualidade na velhice e colaborações de LGBTs idosos.
“A velhice na nossa cultura é a partir dos 60, mas se uma mulher trans, por exemplo, fez 50, ela já é uma sobrevivente. Já pode se considerar uma mulher velha. E não tem asilo para os trans velhos, não tem saúde específica para atendê-los. Eles muitas vezes não têm estudo e não têm casa para morar”, disse à Agência Brasil.
Nery escreveu Erro de Pessoa, Viagem Solitária e participou da coletânea Vidas Trans.
Nas redes sociais, o deputado federal Jean Wyllys lamentou a morte do amigo.
“João, ao se tornar o primeiro homem trans brasileiro a realizar cirurgia de redesignação, contribuiu para transformar toda maneira como a cultura de nossa sociedade percebe e aceita as pessoas trans”, disse o parlamentar, autor de um projeto de lei inspirado em João Nery, que prevê o direito de retificação de registros civis, mudança de nome, sexo e foto em documentos pessoais conforme a identidade de gênero, independentemente de cirurgia. A proposta tramita no Congresso Nacional.
“Com seu trabalho intelectual, seus livros, palestras e diversas entrevistas e vídeos, ele gerou autoestima para as pessoas trans, tornando-se até analista e conselheiro de pessoas trans de todo país que lhe mandavam mensagens através das redes sociais”, acrescentou Wyllys.
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) também divulgou nota lamentando a morte. “João era um homem especial, sempre a frente do seu tempo e preocupado em regar as sementes plantadas para germinar novos olhares sobre os trans homens (como ele gostava de se referir), ativistas, para levar a luta adiante.”
Nery era casado com Sheila Salewski. Ele deixa um filho.
Ciberia // Agência Brasil