O muco que as lesmas soltam serviu de inspiração para um grupo de pesquisadores desenvolver uma nova substância pegajosa, mas flexível que serve para estancar de maneira eficaz as feridas resultantes de uma cirurgia, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira (27) na revista Science.
Os tecidos biológicos são superfícies úmidas e móveis, por isso é muito difícil desenvolver curativos adequados e os que já existentes podem ser tóxico para as células, ter baixa fixação ou não ser bons para uso em ambientes úmidos.
Conforme o texto, pesquisadores do Instituto Wyss, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, criaram um adesivo resistente, superforte e biocompatível que fixa os tecidos “com uma força parecida à própria resistência da cartilagem do corpo humano, inclusive quando é molhado”.
A equipe dirigida por Juanyu Li se focou no muco defensivo que as lesmas da espécie Arion fuscus liberam quando se sentem ameaçadas e que faz com que elas fiquem presas à superfície, tornando muito difícil o trabalho do predador.
Esse tipo de baba serviu de inspiração para desenvolver uma família de adesivos resistentes que imitam as propriedades da gosma, compostos por uma matriz dura, ainda que flexível, e uma superfície adesiva que contém polímeros com carga positiva.
Os polímeros aderem às substâncias mediante uma série de mecanismos físicos, incluindo ligações covalentes entre átomos, que os fazem particularmente pegajosos, por isso o novo curativo se fixa com força à pele, cartilagem, coração, artérias e fígado do porco e não resulta tóxico para as células humanas.
Os especialistas usaram essa cola para resolver um defeito no coração de um porco coberto de sangue e o experimento se ajustou bem ao órgão do animal sem mostrar fugas.
O produto também foi testado em ratos, que passaram por uma simulação de cirurgia de emergência com perda súbita de sangue no fígado e não causou danos nos tecidos aplicados nem nos circundantes.
“A qualidade-chave do nosso material é uma combinação de uma força adesiva muito forte e a capacidade de transferir a força, algo que ainda não tinha sido possível”, apontou em comunicado Dave Mooney, outro autor do estudo.
O novo esparadrapo pode ter múltiplas aplicações na medicina, seja como um remendo que pode ser cortado ao tamanho necessário e aplicado em ferimentos superficiais como solução injetável para lesões mais profundas ou para aderir um dispositivo médico a um órgão
“A natureza, com frequência, encontra soluções elegantes para problemas comuns. É questão de saber para onde olhar e reconhecer uma boa ideia quando ela aparecer”, afirmou o diretor da Instituto Wyss, Donald Ingber.
// EFE