O relatório de um estudo pedido pela NASA recomenda que se procure vida extraterrestre no subsolo e se dê maior ênfase à astrobiologia nos projetos espaciais.
Com a recente descoberta de um lago subterrâneo em Marte e as suspeitas da existência de oceanos subterrâneos nas luas de Júpiter e Saturno, vários pesquisadores acreditam que poderia existir vida nesses lugares inesperados, e que se devia estudar todos os tipos de ambientes, não apenas aqueles que se parecem com a Terra.
Segundo a revista Discover, devido às recentes descobertas astronômicas e aos avanços na astrobiologia, a NASA pediu à Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina (Nasem) para conduzir uma análise independente e objetiva sobre sua atual estratégia de exploração espacial.
A comissão criada pela Nasem contou com 17 pessoas, desde pesquisadores experientes a professores de biologia, astronomia e ciências da terra, e analisou a estratégia da NASA durante um ano. Agora, o relatório final foi divulgado.
No documento, publicado no dia 10 de outubro na National Academies Press, é feita uma sugestão específica: a NASA devia procurar vida extraterrestre em todas as missões espaciais e começar a investigar planetas e luas que, à primeira vista, não são propícias à vida como a conhecemos.
“Quanto mais integrarmos a astrobiologia e o pensamento astrobiológico nas missões, mais poderemos aproveitar as descobertas fantásticas que estão acontecendo com as missões atuais”, disse Barbara Sherwood Lollar, cientista da Terra, professora na Universidade de Toronto e presidente da Nasem.
“Incorporando o pensamento astrobiológico no início dos processos, poderemos ser capazes de fazer ainda mais”, acrescentou.
A astrobiologia é o estudo e compreensão da vida em todo o Universo e só sabemos como os organismos se formam e evoluem na Terra – ao usar apenas essa noção para encontrar vida, a maioria das missões espaciais fica apenas atenta aos mundos com água líquida na superfície.
Na astrobiologia também se procuram por bioassinaturas – vestígios, substâncias, objetos ou padrões que foram deixados por seres vivos. As missões típicas da NASA procuram por bioassinaturas semelhantes às da Terra, como gases e moléculas atmosféricas específicas e padrões de superfícies criadas pelos ecossistemas.
Agora, os cientistas que elaboraram esse relatório acreditam que ambos os fatores precisam de uma séria reformulação – a abordagem atual pressupõe que toda a vida nasce em ambientes similares aos da Terra, e que essa existência deixaria bioassinaturas semelhantes aos encontrados na Terra.
Contudo, ao aderir a essa estratégia, a NASA pode estar negligenciando uma enorme quantidade de comunidades desconhecidas.
“Precisamos ter a certeza de que a nossa caixa de ferramentas de bioassinaturas é universal o suficiente para abranger tanto a nossa capacidade de reconhecer a vida como a conhecemos como aquela que não conhecemos“, explicou Lollar.
Procurar no subsolo
Se os organismos existem em ambientes novos e inesperados, eles provavelmente emitirão bioassinaturas “agnósticas” – que vão contra a nossa compreensão da vida na Terra.
Para encontrar esses marcadores únicos, a Nasem recomendou a pesquisa de bioassinaturas em uma escala mais ampla, como a detenção de pares moleculares que não ocorrem naturalmente ou substâncias químicas peculiares que não correspondem ao ambiente físico.
E, enquanto acredita que a astrobiologia deveria fazer parte de todas as missões espaciais, a Nasem sustenta também que a NASA deveria investigar uma região em particular – o subsolo de planetas e de luas.
Com a recente descoberta do lago subterrâneo de Marte e os potenciais oceanos dentro das luas de Júpiter e Saturno, a comissão acha que esses ambientes subterrâneos podem ser habitáveis – apontando ainda que cada vez mais ecossistemas são descobertos abaixo da superfície terrestre, suportando essa teoria.
Para lugares mais próximos do planeta Terra, como Marte e as luas no Sistema Solar, a comissão acredita que se deveria sondar o subsolo para procurar vida. E, ao contrário do que se possa pensar, a opção não é através de perfurações.
“As tecnologias de perfuração têm muito interesse, absolutamente”, contou Loller. “Mas não são os únicos meios de pesquisar em subsolos – radares sísmicos, penetrantes no solos, varredura orbital, todas essas opções nos dão informações sobre o subsolo”.
Para estudar exoplanetas e exoluas distantes, a comissão recomenda o uso de instrumentos telescópios que possam suprimir a luz das estrelas – que geralmente abafa objetos em órbita.
Essa supressão daria aos pesquisadores uma visão mais brilhante e inédita dos exoplanetas e exoluas e ainda permitiria pesquisar por bioassinaturas.
A Nasem realça ainda que esse grande projeto precisa de um esforço colaborativo e que a NASA deveria convocar organizações internacionais, privadas e filantrópicas para realizá-la com sucesso. Ao combinar esforços e colocar o ênfase na astrobiologia, a comunidade científica poderia aumentar as hipóteses de encontrar vida extraterrestre.
Ciberia // ZAP