O universo pode ser um loop gigante

Pablo Carlos Budassi / Wikimedia

Conceito artístico do aspecto de todo o Universo conhecido

Segundo um novo estudo liderado pelos cosmólogos Eleonora Di Valentino, da Universidade de Manchester (Reino Unido), Alessandro Melchiorri, da Universidade de Roma “La Sapienza” (Itália) e Joseph Silk, da Universidade Johns Hopkins (EUA), o nosso universo pode ser curvado ao invés de plano.

A sabedoria convencional é de que o universo é plano e se estende para todas as direções. Nesse universo sem fronteiras, partículas viajando para direções diferentes nunca se encontrariam.

O que o novo estudo propõe não é inédito: um universo ligeiramente curvado, no qual, se você andar em linha reta por enormes distâncias, eventualmente retornará para o mesmo ponto onde começou a jornada. Em outras palavras, um universo em “loop” ou “fechado”, onde partículas viajando em diferentes direções podem eventualmente interagir.

As evidências que possuíamos até agora não pareciam suportar tal loop, mas o trio de pesquisadores afirma que uma anomalia nos dados do fundo cósmico de microondas (FCM), considerado o eco do Big Bang, na verdade aponta para tal universo fechado.

Essa anomalia seria o fato de que há muito mais “lentes gravitacionais” no FCM do que o esperado, o que significa que a gravidade parece dobrar as microondas mais do que a física existente poderia explicar.

Para tentar explicar essas lentes “extras”, os pesquisadores criaram uma variável chamada “A_lens” e a incluíram no modelo de formação do universo.

“Isso é algo que você coloca lá à mão, tentando explicar o que você vê. Não há conexão com a física. O que descobrimos é que você pode explicar A_lens com um universo positivamente curvado, que é uma interpretação muito mais física do que se poderia explicar com a relatividade geral”, disse Melchiorri, esclarecendo que não há parâmetro A_lens na teoria da relatividade de Einstein.

Controvérsias

Embora os próprios autores da proposta afirmem que ela não é conclusiva – os cálculos oferecem uma segurança de apenas 3,5 sigma, uma medida estatística que significa cerca de 99,8% de confiança de que o resultado não é devido ao acaso, distante do “padrão ouro” de 5 sigma -, outros cientistas são ainda mais céticos dessa hipótese.

Por exemplo, outro estudo, conduzido pelos cosmólogos George Efstathiou e Steven Gratton, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), utilizou os mesmos dados que o trio – coletados pelo experimento Planck em 2018, o mais compreensivo sobre o FMC já feito -, concluindo que a evidência para um universo curvado é muito fraca, e que portanto ele deve ser plano.

Se o universo for de fato curvado, isso levantaria inúmeros problemas a serem resolvidos pela física, piorando questões já complexas como a discrepância vista na taxa de expansão do universo, por exemplo.

Melchiorri concorda, mas crê que talvez os cientistas tenham que lidar com isso um dia. “Não quero dizer que acredito em um universo fechado. Sou um pouco mais neutro. Eu diria, vamos aguardar informações e o que os novos dados dirão. O que acredito é que há uma discrepância agora, que precisamos ter cuidado e tentar descobrir o que é”, concluiu.

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Nature Astronomy.

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