O cacau começou a ser cultivado cerca de 1.500 anos antes do que se acreditava, na América do Sul. A nova informação contradiz as teorias que defendiam que a planta da qual é feito o chocolate foi cultivada pela primeira vez há 3.900 anos na América Central.
Um estudo, publicado nesta segunda-feira (29) na revista Nature Ecology & Evolution, e liderado por Michael Blake, cientista da Universidade de British Columbia, em Vancouver, no Canadá, afirma que o cacau começou a ser cultivado 1.500 anos mais cedo do que se pensava. E não, não foi na América Central, mas na América do Sul.
A pesquisa produziu novas descobertas genéticas que mostram que a maior diversidade de Theobroma cacao, o nome científico da planta de cacau, e espécies relacionadas estão na América do Sul equatorial.
A evidência arqueológica do uso dessa cultura tinha consolidado a ideia de que o cacau é “domesticado” na América Central. No entanto, esse estudo questiona a tese e localiza suas origens na parte mais ao sul do continente.
De acordo com o novo estudo, foram encontrados antigos resíduos químicos que revestiam artefatos de cerâmica descobertos nas terras altas do Equador. Dessa forma, os cientistas chegaram à conclusão que o Theobroma cacao estava já em uso na América do Sul há 5.450 anos.
“Essas descobertas representam o primeiro uso conhecido de T. cacao nas Américas, o primeiro exemplo arqueológico datado da sua utilização na América do Sul, apoiando assim estudos que indicam essa região como um centro de domesticação de T. cacao do Equador”, afirmaram os autores do artigo científico.
Os cientistas iniciaram a pesquisa em busca de evidências de grãos de amido no antigo sítio de Santa Ana-La Flórida (SALF) no Equador, uma reserva arqueológica da antiga cultura Mayo Chinchipe.
A arqueóloga e antropóloga Sonia Zarrillo já tinha encontrado evidências de milho, feijão, mandioca e pimenta em cerâmicas recuperadas no local, mas foi somente quando o colega e pesquisador Michael Blake lhe pediu para verificar se havia traços de T. cacao. que surgiram as novas pistas sobre as origens do chocolate.
Essa evidência preliminar do uso de cacau cerca de 15 séculos antes da visão convencional despertou muito interesse, sugerindo que as origens do chocolate estavam significativamente mais ao sul da narrativa tradicional.
Isso significa que o chocolate “nasceu” na parte superior da Amazônia, tendo sido negociado ou transportado para o norte da Colômbia, antes de chegar à América Central e ao México.
A equipe começou a testar exaustivamente vasos cerâmicos e artefatos de pedra recuperados do sítio arqueológico, encontrando não apenas evidências de grãos de amido de T. cacao, mas também resíduos de biomoléculas encontradas na planta (incluindo teobromina, teofilina e cafeína), juntamente com evidências de DNA de T. cacao.
E a conclusão é incontornável. “O povo Mayo-Chinchipe usava, definitivamente, as sementes (que contêm grãos de amido) e muito provavelmente a polpa doce que envolve a semente também”, explica Blake. “Podemos também concluir que naquela época as pessoas já preparavam bebidas – aliás, é muito provável que o cacau fosse um componente importante de bebidas ritualmente significativas.”
Ao empurrar as origens do chocolate para 1.500 anos antes, parece que os pesquisadores descobriram finalmente o verdadeiro ponto de partida desse alimento delicioso que, até hoje, nos deixa com água na boca.
Ou não: é possível que descobertas arqueológicas futuras possam revelar cenários anteriores a este, já que a planta é, obviamente, atraente para os humanos.
Ciberia // ZAP