Os humanos atuais são resultado de grupos distintos, que viveram em várias regiões da África e em habitats variados, desde florestas a desertos, uma diversidade que resultou nas atuais características da espécie Homo sapiens.
O trabalho, liderado por Eleanor Scerri, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e que teve a colaboração do pesquisador do Instituto Gulbenkian de Ciência em Portugal Lounes Chikhi, defende, ao contrário das teses prevalecentes, que “milênios de separação deram origem a uma desconcertante diversidade de formas, uma mistura” de antepassados que acabou por moldar a espécie humana.
“A evolução das populações humanas na África foi multirregional. Nossos antepassados foram multiétnicos. E a evolução do nosso material cultural foi multicultural”, afirma Eleanor Scerri no estudo.
Os antropólogos salientam que os humanos atuais não derivam de uma única população de antepassados, com origem em uma só região da África, como é aceito e referido com frequência em várias áreas do conhecimento.
O trabalho, publicado esta semana nos Trends in Ecology and Evolution, vem desafiar a visão estabelecida com base no estudo de ossos, artefatos de pedra e análises genéticas, a que se juntaram reconstituições mais detalhadas do clima e habitats da África, nos últimos 300 mil anos.
Os cientistas defendem que é necessário “olhar para todas as regiões da África para compreender a evolução humana”, e resumem suas conclusões em uma expressão: “uma espécie, várias origens”.
Scerri aponta que utensílios de pedra e outros artefatos encontrados em vários locais são de diferentes períodos. “Há uma tendência continental para uma cultura material mais sofisticada, mas essa ‘modernização’ claramente não tem origem em uma região ou não ocorre em um único período de tempo”, afirma.
Quanto aos fósseis humanos, “quando olhamos para a morfologia dos ossos humanos nos últimos 300 mil anos, vemos uma complexa mistura de características arcaicas e modernas em diferentes locais e em diferentes períodos de tempo”, explica Chris Stringer, pesquisador no London Natural History Museum, que também participou do estudo.
Na análise genética, “é difícil conciliar os padrões que vemos nos africanos vivos e o DNA extraído dos ossos dos africanos que viveram nos últimos 10 mil anos com a existência de uma população humana ancestral”, explica ainda Mark Thomas, especialista nessa área e cientista na Universidade College London.
O estudo agora divulgado não põe em questão a teoria geralmente aceita de que após surgir como espécie distinta, o Homo sapiens coexistiu durante bastante tempo com outras espécies de humanos, como o Homo floresiensis, o Homo neanderthalensis ou o Homo naledi, que foram desaparecendo face à expansão da espécie humana atual.
Ciberia, Lusa // ZAP