Okjökull foi declarada morta em 2014. Placa de cobre inaugurada no local faz alerta contra os efeitos das mudanças climáticas, enquanto cientistas temem que país perca todas as suas principais geleiras até o ano de 2200.
A Islândia inaugurou neste domingo (18/08) uma placa de bronze em homenagem à Okjökull, a primeira geleira do país declarada morta como consequência da mudança climática.
O desaparecimento de Okjökull está sendo tratado pelas autoridades islandesas e por ativistas do clima como um alerta para os efeitos do aquecimento global.
“Ok é a primeira geleira da Islândia a perder seu status de geleira. Nos próximos 200 anos todas as nossas principais geleiras deverão seguir o mesmo caminho. Este monumento é para confirmar que sabemos o que está acontecendo e o que precisa ser feito. Só você saberá se nós o fizemos”, diz a mensagem gravada na placa de bronze, destinada às próximas gerações.
A dedicatória intitulada “Uma carta para o futuro“, de autoria do escritor islandês Andri Snaer Magnason, traz ainda a data, agosto de 2019, e a concentração atual de dióxido de carbono na atmosfera do planeta, em partes por milhão: “415 ppm CO2.”
“Você pensa em uma escala de tempo diferente quando está escrevendo em cobre e não em papel. Você começa a pensar que alguém realmente vai chegar ali em 300 anos e vai ler isso”, disse Magnason em entrevista à emissora britânica BBC.
“Este é um grande momento simbólico”, continuou o escritor. “A mudança climática não tem começo nem fim, e acredito que a filosofia por trás desta placa é colocar um sinal de alerta para nos lembrar de que eventos históricos estão acontecendo, e não devemos normalizá-los. Devemos colocar nossos pés no chão e dizer: ‘okay, isso se foi, isso é importante.'”
O projeto foi iniciado por pesquisadores locais e seus colegas da Universidade Rice, nos Estados Unidos. Os convidados da cerimônia deste domingo incluem a primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, o ministro do Meio Ambiente do país, Gudmundur Ingi Gudbrandsson, e a irlandesa Mary Robinson, ex-alta comissária da ONU para os Direitos Humanos.
“Este será o primeiro monumento em homenagem a uma geleira perdida para a mudança climática em todo o mundo”, afirmou em julho Cymene Howe, professora da Universidade Rice.
Segundo Howe, criar um memorial como esse traz luz ao que está sendo perdido em todo o mundo devido à mudança climática. Ela disse que a cerimônia também visa chamar atenção “para o fato de que isso é algo que os humanos ‘conquistaram’, embora não seja uma coisa de que devemos nos orgulhar”.
Pesquisadores envolvidos acrescentaram que, como o debate sobre o aquecimento global “pode ser bastante abstrato com muitas estatísticas terríveis e modelos científicos sofisticados que podem parecer incompreensíveis”, um monumento a uma geleira desaparecida pode ser a melhor maneira de as pessoas entenderem o que está acontecendo com o planeta.
Okjökull, que significa “geleira Ok” em islandês, tornou-se a primeira grande massa de gelo da Islândia a perder oficialmente seu status de geleira, em 2014.
Enquanto em 1890 a Okjökull cobria uma área de 16 quilômetros quadrados, suas dimensões caíram para apenas 0,7 quilômetro quadrado em 2012, pouco antes de desaparecer completamente.
Cientistas alertam que cerca de 400 geleiras na Islândia correm o risco de ter o mesmo destino, e temem que todas elas podem desaparecer até o ano de 2200. O país está perdendo cerca de 11 bilhões de toneladas de gelo por ano.
A organização União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) estima que quase metade dos patrimônios mundiais pode perder suas geleiras até 2100 se as emissões de gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual.