O famoso dilema moral e ético da situação de acidente onde é possível salvar o condutor e atropelar pedestres, ou vice-versa, ganhou todo um novo campo de discussão desde que a decisão passou a poder ser tomada não apenas pelo condutor, mas pelo próprio automóvel. E a história fica ainda mais complicada.
Em 2016, o MIT lançou um inquérito chamado Moral Machine, no qual perguntava a pessoas de todo o mundo que tipo de decisões os automóveis autônomos deviam tomar em situações complicadas, onde tivessem que decidir “quem matar”. Agora, temos os resultados.
A questão deu bastante o que falar, recriando problemas hipotéticos do tipo: se um carro autônomo estiver na iminência de matar uma pessoa, deveria evitar matá-la, mesmo que para isso tenha que se chocar contra uma parede e potencialmente matar os ocupantes? E se em vez de uma pessoa for um grupo de crianças; ou um criminoso; ou um executivo?
As variantes são muitas, e o MIT relembra o fato de que esses resultados visam apenas espelhar a opinião de milhões de pessoas pelo mundo, e não deveriam ser encarados como um “guia direto” que deva ser transposto para os sistemas de controle dos automóveis. O estudo foi publicado na semana passada na revista Nature.
Os resultados são curiosos, no sentido em que por um lado confirmam uma tendência moral global que se manteve constante entre todas as pessoas que responderam, como a de dar prioridade às vidas humanas frente à vida de animais, maior valor a grupos de pessoas do que uma só, e também valorizar a vida de crianças frente a adultos.
Mas por outro lado, há diferenças regionais. Países mais ricos têm maior probabilidade de dar preferência a salvar uma pessoa com estatuto elevado frente a um “mendigo”; em países mais pobres essa tendência se inverte.
São resultados que deverão ser analisados em detalhes, já que será inevitável que, por iniciativa própria dos fabricantes desses sistemas, ou por legislação, este tipo de questão tenha que ser considerada.
Até o momento, o único país que já legislou sobre isto foi a Alemanha, para especificar que todas as vidas devem ser consideradas como tendo valor igual, e que por isso não será admissível que um carro eventualmente desse prioridade a salvar uma pessoa rica frente a uma pobre.
Mas de igual modo, a legislação alemã sobre o tema também prevê que o veículo autônomo não daria prioridade a salvar uma criança frente a matar uma pessoa velha.
É um tema que seguramente irá dar bastante o que falar. Mas em um mundo ideal, é de se esperar que os carros autônomos atinjam esse nível de segurança, que nunca chegue a ser necessário colocar em ação essas regras morais.
Até porque, antes de essa legislação ter sido aprovada na Alemanha, a Mercedes já tinha deixado muito clara a sua escolha: confrontados com o dilema, seus futuros veículos autônomos iriam salvar os condutores (e sacrificar os pedestres) – opção que pode parecer duvidosa a qualquer um… exceto se estiver pensando em comprar um Mercedes.
Ciberia // ZAP