Um novo estudo científico concluiu que a exposição a altos níveis de compostos perfluoroalquílicos, mais conhecidos por PFCs, atrofia o crescimento dos órgãos sexuais masculinos, tornando os pênis menores e afetando também a fertilidade dos homens.
Pesquisadores da Universidade de Pádua, na Itália, concluíram que os PFCs, que são usados na produção de panelas e frigideiras antiaderentes ou em roupas impermeáveis, afetam “significativamente” o desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos, levando os pênis a crescerem menos e a ficarem mais finos.
Esses dados são divulgados no estudo publicado no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, onde se constata que a exposição a altos níveis de PFCs pode interferir com os hormônios masculinos. Os homens expostos a esses químicos ficam, assim, com pênis menores e menos grossos, e com espermatozoides menos móveis, o que afeta a capacidade de fertilidade.
O estudo cruzou dados relativos a 171 homens não expostos a esses químicos com informações de 212 homens da região de Veneto, cuja capital é Veneza e considerada “uma das quatro áreas do mundo altamente poluídas com PFCs”.
Veneto é fortemente afetada pelo escoamento de uma fábrica de produtos químicos e por uma estação de tratamento de águas residuais, como notam os pesquisadores, destacando a forte presença de PFCs na água. Shandong (China), West Virginia (EUA) e Dordrecht (Holanda) são as outras três regiões do mundo com elevados níveis dessas substâncias.
Os pesquisadores mediram parâmetros “antropométricos” e “seminais” e os “hormônios sexuais” dos participantes, realizando também estudos biomecânicos em modelos experimentais.
Os resultados revelam que “níveis aumentados de PFCs no plasma e no fluido seminal estão positivamente correlacionados” com “a redução da qualidade do sêmen, o volume testicular, o comprimento do pênis e a AGD [a distância anogenital]”. Uma AGD menor é um sinal de alguma anomalia na função reprodutora masculina.
Os homens da área não exposta aos químicos apresentavam uma média de comprimento do pênis flácido de 10 centímetros, enquanto os que cresceram na zona exposta aos PFCs tinham apenas 8,75 centímetros. Além disso, estes últimos tinham também pênis mais finos, embora aqui a diferença fosse menor, contando 9,65 centímetros de circunferência em comparação com os 10,3 centímetros dos primeiros.
Assim, os pesquisadores apontam que “os PFCs têm um impacto substancial na saúde humana, já que interferem com as vias hormonais, levando potencialmente à infertilidade masculina”.
“É muito difícil evitar contato com PFCs”
Os PFCs são usados no revestimento antiaderente de panelas e frigideiras, em copos de papel, no tratamento de produtos têxteis, como roupas impermeáveis e carpetes, e até em embalagens alimentares. Estão também presentes em algumas colas, em cosméticos, produtos de limpeza, vernizes, tintas, inseticidas, componentes eletrônicos, em produtos de combate a incêndios, no isolamento de tubagens e em móveis tratados contra manchas.
Esses químicos já foram associados ao câncer, ao elevado colesterol, à obesidade e a perturbações hormonais, e há estudos que indicam também que podem causar menopausas precoces e perturbar o sistema imunológico.
Apesar disso, continuam a ser utilizados recorrentemente, e mesmo que fossem proibidos, seria difícil nos livrarmos da exposição, já que a presença dos PFCs na Terra vai se manter para além da sobrevivência da humanidade. Assim, seus efeitos perniciosos vão continuar a ser uma ameaça.
Os pesquisadores destacam que “o primeiro relato de contaminação de água com PFCs reporta a 1977”, o que reflete que “a magnitude do problema é alarmante, já que afeta uma geração inteira de indivíduos jovens, desde 1978 em diante”.
E não há muito a fazer, já que “é muito difícil evitar o contato com qualquer PFC“, destaca um dos pesquisadores do estudo, Andrea Di Nisio, em declarações ao IFLScience.
“Pelo menos aqui na Itália, é muito difícil saber se um produto contém esses químicos”, aponta o pesquisador, frisando que mesmo quando “é explicitamente declarado ‘livre de PFOA’”, um dos PFCs mais utilizados, não há garantias de segurança “porque o PFOA é apenas um de centenas de possíveis compostos PFC, e todos podem ser perigosos”.
Frente a isso, o próximo passo é descobrir como remover PFCs da corrente sanguínea.
Ciberia // ZAP