Ossadas de baleias cinzentas e baleias-francas do Atlântico Norte foram encontradas no Estreito de Gibraltar. Esses ossos sugerem que, nos primeiros séculos depois de Cristo, as baleias não só circulavam por mares europeus como também eram caçadas por povos romanos.
As baleias francas eram encontradas em todo o Atlântico Norte durante essa época, com locais de reprodução espalhados pelas costas do norte da Espanha e do noroeste da África.
Mas hoje o cenário é diferente. A partir da Idade Média houve um aumento significativo da caça dessa espécie e, atualmente, ela só é encontrada ao norte do globo.
Por volta do século XVIII, foi a vez das baleias cinzentas desaparecerem do Atlântico Norte. Atualmente, podemos encontrá-las no Pacífico.
Os esqueletos desses animais foram encontrados em cinco sítios arqueológicos localizados ao longo do Estreito de Gibraltar e no noroeste da Espanha, juntamente com restos de golfinhos e elefantes.
Os pesquisadores afirmam que esse achado sugere que essas baleias podem ter sido comuns na entrada do Mediterrâneo e que os romanos poderiam tê-las caçado.
Ana Rodrigues, primeira autora da pesquisa do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva do CEFE, na França, e sua equipe examinaram dez ossos recolhidos durante as escavações arqueológicas ou alojados em coleções de museus.
Os ossos eram provenientes de cinco locais – quatro do Estreito de Gibraltar e um da costa noroeste da Espanha. Três dos locais estavam ligados à indústria romana de salga e molho de peixe, informa o The Guardian.
A equipe combinou a análise anatômica com novas análises baseadas tanto no DNA extraído dos ossos como no colágeno – uma proteína cuja composição difere entre grupos de espécies e que se degrada mais lentamente do que o DNA. Todos os ossos foram datados da época romana ou pré-romana, através de datação por carbono
A equipe sugere assim, no artigo científico publicado recentemente nos Proceedings of the Royal Society, que tanto as baleias cinzentas como as baleias-francas do Atlântico Norte eram comuns nas águas ao redor do estreito de Gibraltar durante a época romana.
Essa teoria é ainda apoiada por escritos da época. Plínio, o Velho – um naturalista que morreu na costa de Pompeia durante um desastre vulcânico – parece se referir ao parto de baleias nas águas costeiras de Cádis (sul da Espanha) no inverno na sua Naturalis Historia.
E se as baleias estivessem mesmo presentes, é muito provável que os romanos as caçassem. Vicki Szabo, especialista em história da caça da Western Carolina University, disse que o estudo oferece um vislumbre dos habitats passados das baleias, além de reforçar que a caça industrial poderia ter acontecido muito antes do que se pensava.
“As baleias são consideradas arqueologicamente invisíveis porque poucos ossos são transportados da costa para o solo. Assim, neste contexto, essa concentração de espécies é significativa”, disse.
Também de acordo com os textos do autor grego Opiano de Apameia, que viveu no século II, as baleias eram caçadas com arpões, cortadas com tridentes e machados e levadas posteriormente para a costa.
Ainda assim, permanece incerto se os romanos caçavam, ou não, esses mamíferos. Erica Rowan, arqueóloga da Universidade de Londres, afirma que se as baleias tivessem sido caçadas em escala industrial, deveria haver mais evidências. “Não em sítios zoológicos, mas talvez na literatura ou na cerâmica”, sustenta.
No entanto, a autora principal se mantém confiante no que toca à descoberta. “Esse estudo pode mudar nossa perspectiva sobre a economia romana“, frisa Ana Rodrigues.
Ciberia // ZAP