Sesc premia livros que abordam corpo feminino e homossexualidade

Em seu 15º ano, o Prêmio Sesc de Literatura para novos autores anunciou hoje (14) os vencedores da edição de 2018. Juliana Leite Arantes é a vencedora na categoria romance com a obra Magdalena usa as mãos. Tobias Augusto Jung de Carvalho é o premiado na categoria contos com As Coisas.

Os ganhadores vão participar da programação do Sesc Paraty durante a Festa Literária de Paraty (Flip) 2018, que ocorrerá de 25 a 29 de julho. Eles receberão o prêmio em uma cerimônia no segundo semestre, quando também serão lançadas as duas obras.

O prêmio recebeu 820 inscrições de romances e 720 livros de contos. Todos os textos precisavam ser inéditos e de autores estreantes.

Novos autores

Com 35 anos, Juliana venceu o prêmio com o livro Magdalena usa as mãos, em que conta a história de uma mulher que sofre um grave acidente e precisa passar por um processo de reconstituição de seu corpo e de sua subjetividade.

A obra levou quatro anos para ficar pronta, tempo em que o processo foi revelando as questões a serem abordadas, e a mensagem que Juliana buscava passar. Em sua jornada de reconstrução, a protagonista conta com a ajuda de três tias, que a guiam por meio de sabedorias manuais transmitidas de geração em geração na família.

“O que eu estava querendo pensar era como o texto literário pode ser um trabalho manual, como pode ser um tecido e como aquelas linhas que a gente lê podem ser linhas de uma trama”, conta a escritora, que trabalha com comunicação e marketing e já está escrevendo seu segundo livro.

A autora conta que a obra não é um “panfleto”, mas tem ecos de sua vivência. “O fato de ser uma mulher protagonista faz com que ela ecoe todos esses combates da pauta feminista. Sendo mulher, sou atravessada por isso o tempo inteiro”.

A experiência pessoal também alimentou os 25 contos do livro As Coisas, que rendeu o prêmio da categoria ao estudante de relações internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Tobias de Carvalho. Aos 22 anos, o autor conta histórias que viu e ouviu como um jovem gay em Porto Alegre.

“São personagens que têm muita relação comigo, que vivem muitas coisas que eu vivo, que eu conheço e que os meus amigos vivem. Mas não é autobiográfico.”

Apesar de já ter participado de oficinas de escrita, Tobias nunca havia compilado contos em uma obra. Em seu primeiro livro, o autor quis dar voz a questões que considera sub-representadas na literatura e ir além da narrativa de autoconhecimento, normalmente comum em histórias sobre homossexuais.

“Queria falar da complexidade das relações entre os homossexuais, sobre como se entendem”, diz o estudante afirmando que explora o universo de relações efêmeras dos aplicativos e também os relacionamentos duradouros. “Como os homossexuais crescem com muitos estigmas e traumas, eles se entregam de uma maneira diferente.”

Ciberia // Agência Brasil

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