A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou nesta terça-feira (19/11) que um cabo da Polícia Militar foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar) pela morte de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, no dia 20 de setembro.
De acordo com a polícia, houve um erro de um policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Fazendinha. O inquérito teve como base depoimentos de testemunhas, de policiais militares em serviço que estavam no local do crime, de perícias e o laudo da reprodução simulada feita no dia 1º de outubro.
Segundo as investigações, o policial tentou atingir dois homens que passavam em uma moto, mas o projétil ricocheteou e atingiu Ágatha dentro da kombi na qual estava. Essa era a versão que havia sido relatada por familiares da menina e pelo próprio motorista do veículo. Inicialmente, os policiais afirmaram que houve troca de tiros, uma versão contestada desde o início pelas testemunhas.
De acordo com o jornal O Globo, testemunhas afirmaram no inquérito que o policial confundiu uma esquadria de janela que o homem sentado na garupa segurava com uma arma. Os depoimentos indicaram que a dupla fugiu de uma blitz dentro da comunidade momentos antes, e que o policial militar estava sob forte tensão após a morte recente de um colega.
A polícia pediu o afastamento do cabo da UPP e a proibição do contato dele com quaisquer testemunhas que não sejam policiais militares. A polícia disse que o relatório com a conclusão foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com a PM, que inicialmente afirmou que os policiais da UPP haviam sido atacados por criminosos de diversos pontos da comunidade, o policial militar está afastado de suas atividades nas ruas.
Ágatha Félix estava em uma kombi com a mãe, na Fazendinha, quando foi atingida. De acordo com um laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), enviado à Delegacia de Homicídios da capital, um fragmento de projétil encontrado no corpo de Ágatha tinha ranhuras idênticas à do cano do fuzil usado pelo PM.
Segundo o documento, a bala atingiu um poste, e um estilhaço provocou a morte da menina, perfurando suas costas e saindo pelo tórax. Ela chegou a ser operada no hospital estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu. Ágatha foi uma das seis crianças mortas por tiros no Rio de Janeiro neste ano.
O tio de Ágatha, Danilo Félix, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que essa conclusão já era esperada pela família. “Demorou demais, 60 dias, mas pelo menos a primeira etapa foi concluída.” A mãe da menina está “levando a vida” e ainda não conseguiu voltar para casa, afirmou o tio.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que “lamenta o triste episódio da pequena Ágatha e reforça solidariedade à família”. A PM disse ainda que está dando apoio à investigação da Polícia Civil e que apura a ocorrência por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM).