O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter cancelado na última hora uma reunião marcada em sigilo para este domingo (08/09) com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas na última quinta-feira.
Trump disse que as conversações com as duas partes, que aconteceriam separadamente, iriam ocorrer no retiro presidencial de Camp David, em Maryland. Entretanto, o contínuo uso da violência por parte do Talibã faz com que o grupo seja considerado como um parceiro não confiável.
“Se eles não conseguem acordar um cessar-fogo durante essas negociações de paz de grande importância […] eles provavelmente não têm o poder de negociar um acordo relevante”, afirmou Trump através do Twitter. “Que tipo de pessoas mataria tanto para tentar reforçar seu poder de barganha? Não conseguiram, apenas pioraram as coisas”, observou.
Um soldado americano e um romeno morreram no atentado em Cabul na última quinta-feira, no maior dos ataques recentes assumidos pelo Talibã, ocorrido em meio às negociações de paz.
A decisão de Washington pode significar, ao menos por hora, um fim abrupto ao processo diplomático liderado há quase um ano pelo veterano diplomata americano Zalmay Khalilzad, nascido no Afeganistão, que realizou nove rodadas de conversações no Catar com o negociador-chefe do Talibã, o mulá Abdul Ghani Baradar
Recentemente, Khalilzad disse que tinha chegado a um acordo “em princípio” com o Talibã. Trechos do pacto inicial que foram tornados públicos revelaram que o Pentágono se comprometeu a retirar no próximo ano 5 mil soldados, dos 13 mil que se encontram nas cinco bases americanas em solo afegão.
Em contrapartida, o Talibã cortaria os laços com os extremistas da Al Qaeda e se comprometeria a combater o grupo islamista “Estado Islâmico”, além de impedir que jihadistas se refugiem no Afeganistão. O presidente afegão, Ashraf Ghani, já deixou claras as suas críticas aos termos do acordo com o Talibã, uma vez que os islamistas se recusam a negociar diretamente com o governo internacionalmente reconhecido em Cabul.
“O obstáculo criado no processo de paz atual se deve à contínua violência e combates por parte do Talibã”, afirmou um comunicado do gabinete de Ghani emitido neste domingo, após o cancelamento da reunião nos EUA. “O governo afegão, no que diz respeito à paz, reconhece os esforços sinceros de seus aliados e o comprometimento em trabalhar junto aos Estados Unidos e outros aliados para trazer paz duradoura“.
O anúncio de Trump sobre o cancelamento gerou perplexidade em Washington, assim como o fato de a reunião ter sido marcada em Camp David. O retiro presidencial já abrigou encontros que resultaram em acordos importantes, como o tratado de paz entre o Egito e Israel intermediado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, em 1979.
Em 2000, o ex-presidente Bill Clinton recebeu em Camp David o líder palestino Yasser Arafat e o premiê israelense Ehud Barak, em negociações de paz. O local já abrigou importantes chefes de Estado de vários países, mas esta seria a primeira vez que acolheria líderes de uma organização militante.
O encontro em Camp David ocorreria dias antes do 18º aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, que levaram à invasão americana no Afeganistão e à remoção do Talibã do poder.
O cancelamento aumenta as dúvidas sobre a possibilidade de os EUA iniciarem no futuro próximo a retirada de sua presença militar no Afeganistão e surge a poucas semanas das eleições afegãs, que costumam ocorrer sob fortes tensões mesmo em períodos de maior estabilidade.